terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Não precisa mais chorar, mãe

A madrugada de hoje foi difícil. Poderia dizer que mais que todas as outras, já que, apesar do sol cortante de ontem, no meio da noite começou uma chuva estranha e só parou agora de manhã. Não sei ao certo o motivo de ter arriscado tanto minha vida nesses últimos meses, sendo que pensei que não aguentaria nem um final de semana longe de você, mas pior seria ter de aguentar sua mente fechada e sua voz alta quando a ignorância batia e só lhe restava gritar para combater meus argumentos. Não há coisa que irrite mais que gente que grita, mãe, e eu sempre quis que alguém te explicasse isso.

Aqui na rua aprendi muita coisa, desde malabarismo com pinos de boliche até tocar Bossa Nova pra conseguir algum trocado na esquina da antiga locadora. Seu Lelé, o mais veterano da "nossa área", disse que tenho facilidade com o mundo, que transformo as dificuldades em bolhas de sabão que a gente faz durante o banho: até que são bonitinhas, mas é melhor acabar com elas antes que estourem nos olhos. E é impressionante como todos se ajudam na Rua Coutinho. Os comerciantes nos dão lonas pra usar quando o vento vem forte, e quando o movimento na padaria do Nunes é bom, ele até libera algumas empadas e sucos naturais. Acredite, mãe, eu aprendi a tomar suco natural, principalmente de abacaxi. Em troca disso, nós fazemos a segurança noturna. É tipo um feudalismo moderno, mas ao nosso favor, se é que me entende. Você iria gostar da Dona Cecília, 64 anos e, apesar da falta de higiene, continua com a aparência jovial. Acho que a vovó sentiria inveja dela. Tu anda lendo os jornais? Uns dias atrás fizeram uma matéria sobre sobre os assassinatos que ocorrem por aqui. Queimaram um colega meu enquanto dormia, mas me disseram que ele devia até as cuecas (que não tinha), tudo por causa de drogas. Gente assim, que procura qualquer causa pra pouca revolta, não merece tanta compaixão, mas achei melhor ficar quieto, até porque meu melhor amigo dessas noites mal acabadas, usa heroína. Diz ele que é pra aguentar o tranco, pra ser mais sorridente na hora de pedir dinheiro no semáfaro.

Quando fui embora, mãe, pensei até em suicídio, mas fui convencido pela Mallu, a moça por quem me apaixonei numa manhã de setembro, de que mesmo em terra, algumas coisas podem nos mostrar uma brecha de como o paraíso deve ser, se ele realmente existir. Por isso resolvi voltar pra casa. Vou deixar essa carta na caixinha do correio logo após você ir pro trabalho. Aliás, compre creme de barbear pra mim, acho que nem o Nero vai me reconhecer assim do jeito que estou. Preciso me despedir do pessoal, todo sábado a noite nos encontramos no beco 34, entre a Rua Limeira e a Avenida Atlântida. Muita gente aproveita pra vender crack por lá, mas eu só fico na cerveja, como sempre fiquei, e espero que você não fique igual desesperada me questionando sobre isso quando eu chegar. Até porque, mãe, viver sem roupa limpa, sem comida quente, sem dinheiro e sem meus cd's não foi assim tão difícil, mas dormir sem um beijo seu é cavar meu buraco na solidão.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

No tempo que Dondon ia comigo pra me ajudar a rezar

Fiquei pensando em como começar esse texto falando de uma parte da infância sem ficar parecido com início do texto de baixo, mas whatever, azar o meu não ter a criatividade necessária pra não ofuscar a beleza de ainda não ser um adolescente que dificilmente vai pra igreja. E penso seriamente que a missão religiosa dos meus reponsáveis era só fazer com que a gente (eu e meu irmão) fossemos pra catequese até a crisma. Mas até lá aconteceram muitas, muitas coisas:

O calor e as voltas na quadra: Lembro até hoje do meu primeiro dia naquela salinha quente. O negócio começava 2 da tarde nos sábados, e foi daí que eu comecei a não suportar o verão. Minha catequista parecia ser bem velha, tinha voz e nome de velha: Lindomar (que pra mim é nome de homem, homem velho). Era do tipo daquelas tias (velhas) carrancudas e viúvas do interior de São Paulo que a família inteira só visita por consideração no natal, mas na real eles só querem que ela morra logo, ou que só se mude. Pra mais longe, é claro. E ela falava coisas que minha mãe já tinha falado anos atrás. Sempre pedia porque eu não levava caderno, se a gente tinha feito uma boa ação durante a semana. Mas naquela época a única coisa boa que eu fazia era colocar açúcar perto dos formigueiros no quintal da minha casa. Sendo assim, muito incômodo pra minha cabeça, resolvi não ir mais praquele lugar. O problema é que não adiantaria falar pra minha mãe sobre minha escolha, mas algum jeito eu tinha que dar. Então era isso, a solução seria sair de casa como se fosse pra ir me catequisar, aaaiai... mas ficava na rua, andando, durante duas horas, indo no mercado, conversando com a costureira que morava na quadra de baixo, tudo que eu considerasse bom o suficiente e que fizesse o tempo passar mais rápido. Só aparecia na igreja pra fazer as provas. Pasmem, gente! Na minha catequese tinha prova!! E foi assim durante dois anos, até que invalidaram minhas falcatruas e quando chegou a primeira comunhão, reprovei por tantas faltas. Até então (e até hoje) isso não tinha acontecido nem no colégio. Mas é, reprovei na catequese. Quem é o fodão agora?

O castigo e a outra turma: Depois dessa brincadeira toda, depois de quase me crucificarem como Jesus, depois de acharem que eu tinha sido possuído, uma tia minha me convenceu a começar a catequese na igreja que frequentava. Ela conhecia alguns padres, eles iam me aceitar, e não era muito longe de casa. Na verdade só resolvi ir mesmo porque iria com uma prima e os amigos dela que gostavam de mim, e eu gostava deles, e de todo mundo, até da catequista Márcia. Acho que foi/sempre vai ser uma das épocas mais felizes da minha vida. Ia pra minha tia 7 da manhã, também aos sábados, a evangelização (como eles dizem) começava 10:00 e acabava meio dia. Depois de reservar um pouco mais meu lugar no céu, ficava lá pelo bairro. Rasguei muitos shorts nos carrinhos de rolimã, coloquei muita bombinha dentro dos formigueiros (olha só como as coisas mudam!) e joguei bola pelo resto dos anos, tanto que hoje não sei mais nem chutar de 'trivela'. A primeira comunhão foi mais pra provar pra mim mesmo que aquilo tudo não era tão ruim, que o ruim só era ter que segurar na mão de gente estranha pra rezar o Pai Nosso.

Os fundos da igreja e a crisma: Uns meses depois me mudei pra onde moro atualmente. Descobri que tinha uma igreja bem pertinho e a catequese era na quarta-feira, 7 da noite. Perfeito! Não ter que acordar cedo e não influenciar nos meus sábados (que agora eram tão sagrados quanto a bíblia) era só o que eu mais queria. E agora era um catequista quem comandava, apesar de eu achar até hoje que ele era gay. Também tinha o Anísio, o catequista-assistente (achava essa palavra muito podre). Ele estudou com meu irmão na oitava série e era filho do farmacêutico da farmácia (ah, jura?!) aqui da esquina. Também tinha o Otávio, porque sempre tem que ter o alto-magrelo-loiro-babaca que quer ser o engraçadão da galera, mas na verdade ele só usava regata e era fedido. Eu conversava mais com o Rafael, outro alto-magrelo-loiro, só que nem era babaca. É meu vizinho até hoje, mora em cima da padaria que eu compro esfiha de hamburguer, que sempre vem com uma merda de picles escondido entre o queijo e o presunto. Não o vejo muito, mas me contaram esses dias que ele deu uma aliança pra namorada com 1 mês de compromisso. Sempre desconfiei daquela expressão desesperada. Não posso esquecer da Andressa, acho que ela era apaixonada por mim. O pai dela é dono de um restaurante que faz uma comida bem parecida com a da minha mãe, ou seja, muito boa. A gente ficou uma vez nos fundos da igreja. Rafael deu cobertura, mas acho que o Otávio foi quem contou pra todo mundo. Também tinha a Rayane, a gordinha que sonhava um dia ser catequista-assistente. Levava terço, salmos marcados e lição de moral pra todo mundo, mas ninguém ligava, pra alguma coisa ela tinha que servir. Acho até que rolava um ciúmes da Andressa comigo, ou de mim com a Andressa. Até porque aquelas roupas largadas e tênis 8 molas nunca me enganaram. Tão novinha, tão não-hétero. A coisa fluía normalmente, era melhor que o Fisk, bem melhor. E só ali eu poderia juntar meus argumentos pra ver graça no novo testamento. Mas a crisma veio mais rápido do que eu pensei. Uma sensação boa que só senti de novo quando terminei o inglês e o terceiro ano, e que só vou sentir quando terminar a faculdade.

Por fim, faz mais de um ano que não vou pra missa. Alguns continuaram em grupos de jovens, na banda da igreja, alguma coisa assim. Tirando a Rayane, ela virou catequista mesmo. Acho que prefiro vê-los de vez em nunca pelo bairro, ou em alguma festa meio bêbados de um jeito que eu nunca imaginaria, se fosse lembrar daquelas caras de coroinhas decorando Salve Rainha. Mas se souberem da Andressa, me avisem, por favor.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Olhando aqui do alto

Na infância nunca fui dessas crianças de ter medo, nem de barata, rato, fantasma, ladrão, muito menos Bicho Papão. Aliás, eu sempre imaginei que ele fosse um tipo simpático de ET que gostava de roubar papinha das crianças, e por isso elas ficavam tão assustadas. Mas um negócio sempre me encucou: avião. Deve ser de família. Pavor de cobra, alta velocidade, andar a cavalo, café muito quente, tem de tudo. Sem falar da Aicmofobia (medo de agulha) do meu pai, e isso é bem sério. Nessas misturas me deixaram com medo de avião. Não é de altura, é só de avião.

Eis que uma certa vez não teve jeito. A passagem estava comprada e a mala pronta. Era só a segunda viagem acima das nuvens da minha vida, sendo que a primeira foi um passeio por cima das Cataratas.

Na ida ao aeroporto meu amigo já estava se questionando sobre o serviço de bordo. Não sei se eu sou chato o suficiente pra ficar reclamando disso. Me deixando no destino escolhido, tá ótimo! Dessa vez a gente iria pra João Pessoa. Luis queria ver uma namoradinha do ensino médio e eu só fui ver até onde ia minha coragem, mas lógico que curtir um forró de raíz nunca foi uma má ideia. Ainda mais que a namorada dele conhecia uns becos "arretados" por lá. Disseram também sobre um show do Monobloco, ou me enganaram, só pra eu perder mais um pouco do medo. Me atrevi a sentar do lado da janela e abria por uns 5 segundos. Uma mulher na minha frente assistia Reservoir Dogs e Luis não parava de falar na ansiedade de reencontrar Maria. Será que ela está mais gordinha? Mais bronzeada? Será que agora ela transa? Eram duas coisas somadas pra me distrair.

Chegando lá, imaginei que seria uma estratégia turística passar pelas principais praias antes de ir pro aeroporto, mas agradeço, aquilo foi o último sopro pro meu medo sumir por completo. Tenho a impressão de que, incoscientemente, alguém me enviou praquele lugar pra de alguma forma me submeter também ao fino feitiço das glórias desse mundo. A cidade em si, o esplendor do litoral e o crepitar das vaidades em torno de mim, um cara aliviado, sem medo de turbinas gigantes. Detalhes nos perdem, mas também nos salvam.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Um pouquinho que ninguém tem

O negócio é que eu já estava acostumado a viajar nas férias pra Santa Catarina um pouco antes do ano novo, mas sempre levava algum primo, amigo, qualquer pessoa que eu consiga, depois de um tempo, poder lembrar das histórias daquela viagem. Não sei o motivo que fez com que dessa vez fosse diferente e ninguém embarcou junto. Éramos só nós: eu, pai e mãe. Não que passar duas semanas com eles fosse a pior coisa do mundo, mas ir pra praia de madrugada sozinho também não era uma das melhores. E não seria por isso que eu ficaria dormindo.

Peguei a carteira, o mp3 (quase sem bateria), deixei o celular no apartamento e fui pro mar. Acho que já tinha passado da meia noite, mas não sei se em cidade praiana a lua costuma ficar parada no mesmo lugar a noite toda, ou eu que não presto atenção mesmo. Pelo menos reparei que um grupo de turistas cariocas estavam indo pro mesmo lugar que eu: a beira do oceano. E cantavam, se abraçavam, riam de tudo, até do vendedor de bóias jurando que ia conseguir vender alguma coisa naquele horário. Acho que estavam fumados. Não que eu duvide da felicidade alheia, mas o cheiro também deixava claro. Sentei um pouco longe, deitei e dei play. Não terminou nem a primeira música e ela veio.

- Tá ouvindo o que, garoto?
- Cássia Eller.
- É? Ela era vizinha da minha mãe, quando tava entrando naquela vida bandida, 14 anos, só ouvindo Beatles, um pouco antes de ir pra Brasília.
- Quem? Sua mãe?
- A Cássia, mané!

Eu nunca fui muito admirador daquele sotaque. Um tio meu morou a vida toda no Rio e quando ia visitar a gente, só faltava eu pedir pra ele calar a boca. Tinha mesmo que ser tão diferente? Até pernambucano é menos irritante.

- E sua mãe era amiga dela?
- Pelo tanto que ela fala daquela época, acho até que se pegaram pelos corredores do prédio onde eu moro.
- Não é de duvidar... Pela Cássia, claro.
- É, melhor não imaginar como seria.

É lógico que imaginei. Mas não sei se iria gostar de ver minha mãe pegando a Cássia Eller. Ficaria com ciúmes.

- E porque tu não tá com seus amigos?
- Não sei, vi você aí goiabando e dei um perdido. Eles estão meio bêbados e beckiados. Não que eu não esteja, mas isso não quer dizer que tenho que ficar fazendo escândalo. Tô pensando em dar um rolê em algum pé sujo, bora?
- Se você me contar o que é um "pé sujo", quem sabe.
- Tá de caô? Pé sujo, léke, bar de esquina, tomar um mel! Levanta daí que vou te botar na fita. Só vou passar dar um alô pro bonde pra eles não acharem que eu fui sequestrada. Traumas da capital, tá ligado?
- É, acho que sim.

Não sei se eu fui junto por não ter outra coisa pra fazer ou por causa daqueles cabelos. Só poderia ser isso. O sotaque era horrível, as gíras então... mas aquele cabelo era quase intocável. Pensei em como ele devia ficar lindo quando ela acorda.

- Olha, é a primeira vez que venho pra cá, antes a gente sempre ia pra Búzios, então se tu conhece algum lugar sinistro pra ir, me guie. Nada de prego, neguinho!
- Você samba?
- Fala sério! Cê acha que eu com esse sotaque que você odeia não vou saber sambar? Aqui é só no sapatinho, mermão.
- Como você sabe que eu odeio seu sotaque?
- É só olhar tua cara de bucha. Mas vamo logo pra esse festerê aí que meus pés tão coçando já por um sambinha.

Cara de bucha? Que merda é essa? Nem quis perguntar pra não ficar pensando em uma cara melhor pra fazer quando ela abre essa boca pra falar essas bobeiras. Mas porra, que boca linda! Ela deve ser daquelas que nunca usa batom.

- Vai querer cerveja ou suco?
- Como assim suco?
- Não sei, maluco, tu fica aí de corpo fechado, parece que vai ficar pelando saco a noite toda.
- Ainda bem que tu não me conhece o suficiente pra saber que, pelando saco ou não, tô doido pra te deixar no chão quando começar a tocar Maria Rita.
- Então já é! Ô garçom, pintoso, traz 4 tequilas que eu quero ver esse paranaense pipocar na pixxxxta.

O negócio foi tenso. Ela deve ter se sentido nas gafieiras da vida. Não largava da cerveja, nem do meu pescoço. Eu não poderia me apaixonar agora, por uma carioca estranha que fala "irado". Ela dançava de um jeito que seria pecado mostrar na Sapucaí. E dançava ali, pra mim. Eu não poderia me apaixonar. Se a globeleza visse aquilo, choraria de tristeza, se aposentaria, iria pra Argentina aprender Tango. Tocou tudo que não poderia ter tocado, toda a trilha sonora que eu tinha criado pra distribuir pelas épocas da minha vida. Mas alguém quis que fosse jogado tudo de uma vez, numa noite só, no mesmo par de olhos verdes. Eu não poderia me apaixonar.

Já era umas 6 da manhã, o som ficou meio baixo e eu sentei numa cadeira de praia. Isso mesmo que eu queria lembrar: tinha cadeiras de praia dentro do bar. Como ninguém tinha pensado nisso antes? Ela veio junto e pediu uma água. Acho que conversamos até mandarem a gente embora. Eu não tinha pra onde ir, muito menos ela, então pra não contrariar sobre qual é o melhor refúgio nessas situações, corremos até a praia. Sem pedir ela pegou meu mp3 e colocou "Só tinha de ser com você", da Elis.

- Tu é dos meus, nego. Vou ficar grilada quando eu for embora.
- E quando vai?
- Hoje.
- Já?
- Sim, mas preciso agradecer algum deus por ter rolado esse lance com você.
- Viu só? Achou que eu não ia aguentar.
- Cê é meu rei, guri! É assim que vocês falam, né? Guri.
- Não, gaúcho que fala assim.
- Ah tá, vacilei.

Ela, imprevisível como durante toda a noite, me beijou no meio da rua, na frente de um casal de velhinhos que acordaram cedo pra comprar pão. Não sei com que força nas pernas levei ela até seu apartamento. Fiquei parado olhando ela entrar e subir, e do nada apareceu na sacada, me mandando o sorriso mais aconchegante guardado nas confusas gavetas da minha memória. Aliás, bem que eu disse que aquele cabelo fica lindo de manhã.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Je suis vraiment desolé mais je ne peux pas partir avec toi

Chegando no aeroporto eu pensei em fazer a volta, entrar na contra-mão, provocar algum acidente, qualquer coisa que fizesse com que ela não voltasse pra casa. Se relacionar com intercambista é ter uma certeza maior que a morte: um dia ela vai embora. Mérito nosso não termos pensado tanto nisso durante esses 12 meses, já que aproveitar você aqui era a única coisa que eu faria, e fiz. E me passou um filme de 5 segundos, desde a primeira tequila - que você disse que era muito fraca - até aquele natal, em que o maior presente foi te ver ali, toda Penélope Cruz, ensinando como é que se comemora esse negócio de verdade. Às vezes me sinto com coragem em pensar que quem deixa ir tem pra sempre, mas enquanto teu avião decola, minha saudade já passou as nuvens.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Gostar, gosto sim

Eu, um 'latino-americano sem gosto e nem sabor' pelo menos tento achar mais fácil dizer que gosto daqui do que só ficar reclamando dos desabores do destino. Tento. Até porque foi uma sorte pra mim ter nascido na minha cidade, sendo que de um lado se encontra a Argentina e do outro o Paraguai. Deus me livre! E olha, eu gosto daqui. Gosto do ritmo que as coisas andam por aqui. Gosto do ritmo que as coisas que eu gosto andam por aqui. Aí pra contrariar vem aquela dona de casa, mãe de 4 filhos, todos de pais diferentes (menos os gêmeos que estão pra chegar e ela ainda não sabe), querendo dizer que estrangeiro, quando é pra falar do Brasil, só lembra de Kaká, Pelé e das mulatas da Portela. Estranho é que nisso a danada já esqueceu que deixa o Joãozinho, a Aninha, o Pablo e o Juca na vizinha pra poder trabalhar o corpinho no pagode da esquina depois da feijoada de sábado. Vai ver não é tanto pecado assim. Vai ver ela só finge que não vai desistir nunca.

O problema é que a gente mora num país onde o dono da maior rede de igrejas evangélicas é também dono de uma das principais emissoras de televisão. Enquanto isso, em suas novelas, temas sobrenaturais como vampiros e super-poderes são claramente vistos a cada episódio, contrariando todo e qualquer ensinamento das palavras do deus usado para a arrecadação do dinheiro dos fiéis 'indefesos'. Mas se for pensar bem, o dízimo sagrado acaba indo parar no tanque de gasolina dos jatinhos particulares.

O problema é que a gente mora num país onde a banda pop atual de maior sucesso usa roupas coloridas lançadas por uma outra banda gringa que, provavelmente, os fãs daqui sequer sabem da existência, pois até pra ir no show tem que ser acompanhado dos pais.

O problema é que a gente mora num país onde o programa de maior audiência no domingo é um mesclado geral de todas as mortes e bombas e tentativas de atentados terroristas e chacinas e sequestros que aconteceram durante toda a semana, e achamos aquilo tudo muito Fantástico. Tá, calma, não é tão grave assim, eles tentam uma dose de arte&cultura: anunciam o artista que fez as pinturas expostas no cenário, mas só no final, quando ninguém mais vai ter coragem o suficiente pra sair na rua no dia seguinte.

O problema é que a gente mora num pais onde um palmeirense usa a camisa do Corinthians por não ter mais nada pra vestir. Sem falar na do Santos que ele já jogou pro cachorro aliviar o inverno. A do São Paulo nem conta.

O problema é que nós abafamos uma merda com outra quase pior. A população prefere de brincar com o próprio futuro do que pelo menos descobrir onde fica a Câmara dos Deputados da própria cidade.

E no fim, eu gosto daqui, só não gosto da maioria sugadora que vai sempre tomar a voz baixa de quem leva o Brasil a sério. Mas quando isso mudar eu quero estar por perto, tomando minha típica caipirinha brasileira, lembrando de como o Maranhão é lindo e dizendo pra todo mundo que as minhas cataratas são bem maiores do que as do Niágara.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Poema filmado

Eu nem pensei em voltar pra casa. Estava vivendo uma daquelas cenas da vida em que nunca pareciam 100% reais. À medida em que iam acontecendo (e se raciocinava sobre o que estava acontecendo), tornavam-se ainda mais confusas. Era quase a mesma sensação de estar envolvido num acidente de carro.

Mas, além de acreditar que era verdade, queria também ligar logo pra ela. Gente assim que nunca reclama de cerveja quente ninguém encontra de graça, em qualquer final de semana, muito menos em uma só madrugada. E o jeito que ela me olhou quando colocou o bilhete no meu bolso foi o estopim pra eu aceitar que não adiantaria formular todas as qualidades que já tinha descoberto e colocá-las numa pessoa só, e tão linda, pra compensar qualquer defeito barato. Talvez fosse ela, mas deixei pra me tocar disso na manhã seguinte. Foi o café amargo mais doce dos meus últimos meses.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Feminismo de segunda-feira

- Como você já tá aí se eu comecei a copiar bem antes de você?
- Enquanto eu falo e escrevo, você escreve e ouve
- Tá, dá na mesma
- Claro que não! É que, sabe, nós mulheres...
- Sim, já sei, conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo
- Isso, espertinho! Viu só? Pelo menos você pensa enquanto escreve
- HA-HA!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Mesmo depois

Já em casa, ela me surgia onde eu menos esperava, num refrão, uma vibração do celular. Às vezes eu conseguia reconstruí-la inteira, a cada fala, a cada gesto, a cada vento barulhento na sacada. Logo depois eu a perdia completamente. A repentina risada alta que sempre me assustava, a sombra que aquela franja fazia nos olhos, o jeito com que ela dizia "você é besta?" diante de alguma bobagem que eu conto - tudo como se perdia, se desvanecia no ar como se nunca tivesse acontecido. Eu nem ficava tão chocado, já que em mim razão e imaginação sempre se estranhavam um pouco. Tentava me consolar pensando em coisas que juntei diante de várias ocasiões minhas e dos outros: que o amor nunca se engana, que a luz que ele vê no outro é sempre verdadeira, e mesmo quando outro já não é mais tão digno assim, ela fica pairando por ali, como o brilho dessas estrelas há milênios falecidas.

domingo, 19 de setembro de 2010

Vila A Via Paraná

Tem dias que eu acordo com uma breve vontade de perguntar para as pessoas sobre suas manias, as quais ainda não saquei, que somariam poucas. Já me falaram pra parar de ficar reparando em qualquer movimento, em tudo que há vida, mas tristes são aqueles que não conseguem entender como até o jeito de bater as cinzas do cigarro pode decifrar alguém. Queria levar qualquer pessoa pra passar o dia comigo e anotar todos esses detalhes que só quem era cego e recuperou a visão conseguiria enxergar.

A cobradora do ônibus que eu volto da faculdade é minha fonte mais segura. Ela, todo dia e no mesmo horário (e no mesmo canal HÁ chaves!) faz as mesmas coisas. Desde prender e desprender o cabelo pra ver se o cara da Receita Federal repara em charme barato, até acabar com a garrafinha de água um ponto antes do meu. As vezes até tento fazer com que ela pare, só de sacanagem, já que não me incomoda em nada essa mini-rotina, mas a coitada não entende nem de cor de esmalte - minha primeira tentativa de assunto - aquela unha parecia intacta desde o último encontro: 2 anos atrás. E ainda não percebeu como o motorista come com os olhos, como compraria um salão de beleza inteiro só pra tê-la uma noite esticada na cama com esse uniforme azul formal, mas que naquele corpo que nunca vi em pé se tornara um pouco mais atrevido. Ela até coloca os óculos pra me dar o troco da passagem, cara! Romance no busão é merda com cheiro de sorvete de creme.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Chuva

E depois, na rede, jurei exorcizar da minha mente todas as lições, ilações, citações e, como já me pediram, agir como se boa parte das coisas da vida eu não soubesse mesmo só de livro ou cinema. Assim, tentei imaginar alguém simplesmente como uma dádiva que céus anteriores à fé e à razão criaram, esculpiram, guardaram e esta noite até molharam para mim.

Mas eu, às vezes, me pergunto se certas cenas e frases que nosso inconsciente teima em guardar dentre as tantas que apaga não são justamente as que pressentem e um dia vão iluminar algumas vivências e situações futuras, já que nas fundas águas do inconsciente, dizem que passado, presente e futuro borbulham juntos.

domingo, 29 de agosto de 2010

Explicação pra quem não sente, ou só finge

Dias atrás falei com uma amiga sobre carência, saudade e a vontade que dá. Não a minha, talvez a dela, vou lá saber. Numa certa idade, e não é regra, parece ser mais fácil viver de amores e outras coisas. Amores, depois outras coisas. E inclui todo o resto nessas outras coisas, menos os amores. Acho que eu vou sentir mais se meu cachorro fugir do que se o deputado federal da minha cidade gastar muito com merda de campanha eleitoral. Da mesma forma, enquanto um casal, domingo de manhã, junta os trocados pra comprar um suco-cura-ressaca, vão mesmo querer saber se as Coréias andam se ameaçando? Não é querer tornar o mundo indiferente, esse "deixa estar" involuntário surge vocês nem sabem de onde. Mas se alguém descobrir, me avisem! Pago duas cervejas, porque dividir só uma é quase evitar o que vem depois.

domingo, 8 de agosto de 2010

Vinho em copo descartável

Eu poderia jurar que seria só mais um sábado em volta da piscina com todas as pessoas de sempre e algum intercambista jurando que ainda não tinha provado cerveja. Mas ah, pra que se tenho um celular com crédito na mão? Passa aqui, me busca, vem pra cá, tô indo, não, tem muita gente, vão achar estranho, nem vão, mas e se contarem? Tá bom, daqui 10 minutos eu busco. Atravessa a rua logo, até gostaram do sapato. Vamos embora, primeiro passa na frente daquele restaurante que tem música ao vivo pra gente ver o que a mulher tá cantando, se não for Chico, nem desce do carro. Sobe a escada sem tirar o calçado (deve ser pelo elogio) e tira a blusa de cima, será que se sente tão em casa assim mesmo ou só é desleixada? Mas acho tão bonito que faria a mesma coisa. É só não esquecer os cobertores, deixa meu cabelo molhado mesmo, é melhor que cheiro de corrida noturna. E abraça e beija e funga no ouvido e reclama e encosta o pé gelado e ri alto e passa medo e pega a pantufa da minha mãe e beija e me assusta com o despertador e quase arranca minhas costas e come minha bolacha e toma minha coca e me lava a alma e abraça e por favor, não vá embora. Se na semana que vem a gente não puder mais, lembrar do que vivemos é a tentativa mais fácil pra me tirar do sufoco. Enquanto isso, saber que estamos vivos é mais que o preço da passagem de volta. O troco eu guardo pro moto-taxi.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Se eu fosse capaz

É que há muito mais que orgulho em assumir o que a gente não quer que os outros percebam. Não é tão simples assim, não é só dar metade da sua vida pra alguém decidir o que fazer, até mesmo quando esse sou eu. Mas se a capacidade tivesse entrado aqui, nem a dona da padaria imaginaria, e ela imagina! Enquanto isso, na cidade com a minha idade e sem capa(cidade) de super-herói, estou quase convencido de que aqui só cabe a boa sensação daquela frase, a qual se eu não mais usar é porque não tenho motivos. E nunca fui de ficar economizando... Minto! Economizava moedas pra comprar Babbaloo.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Sô-fã

Pensei em falar de mim, dos 3 violões quebrados, da manteiga de cacau quase no fim, do motorista engraçado especialista em bombinha de fedor, de como é difícil carregar aquele tripé no inverno, das panquecas de carne moída sem cheiro verde, mas acabei olhando o meu Sofá, com letra maiúscula e tudo. Onde caberia minha homenagem pro pobre coitado? Não basta os panos molhados pra tirar cheiro de cigarro (os quais não fumei), o chulé de meia molhada (aí sim é coisa minha) e as marcas de prato quente. Se eu pudesse, dormiria só ali, todas as noites, como faço nas tardes, mas não todas. A nobre dupla me consome. O de 3 lugares é pra gente chata que quer ser espaçosa, deita lá e nem encolhe as pernas pra caber alguém em alguma ponta. Mas o de 2, não me cabe inteiro, e serve pra tudo. Acolhe mais, sabe? Eu e todo mundo.

Minha casa não é um albergue de estudantes depravados que gastam toda a mesada (ou salário) em vinhos e filmes piratas. É só uma casa com um sofá do caralho! Os vinhos e filmes são distração barata, money parece curto. Posso fazer propaganda? Tanto faz a tv piscina lava-louça, o negócio é o sofá! E olha, tem um lugar sobrando.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ballet da vida irônica

Me inspiro em nomes musicais, é mais fácil que em nomes de pessoas. Faria o que com Laura? Pode procurar, não achei nunhuma com esse título, só a Lady, do Roberto Carlos; e uma do Maná, mas essa nem conta. Enquanto isso, Tássia me fala sobre voltar, não que ela queira desesperadamente, eu entendo, ocuparia uma grande parte vazia das férias, como eu entendo. E que férias? De quem foi essa ideia de começar a trabalhar antes de Agosto? Minha? Sério mesmo? Eu tava bêbado, confere aí, pode voltar a fita! Não tô exatamente reclamando em ter que levantar 7:50 nesse inverno iguaçuense que me surpreende todo ano, mas ah, vou lá saber quando irei confundir Junho com Julho só por ansiedade pras duas semaninhas sagradas de novo. Vem aquele batalhão me falando sobre ser, votar, carteira, financiamento, cartão, roupa, cuida isso, aquilo também. Mas que porra, ein, já sei, caralho! Eu só sempre achei que as pessoas não seriam fresquinhas demais pra ficarem me alertando sobre coisas tão normais. Sabe né? Ser menininho, topetinho, olhem pra mim, em que site nossa foto vai aparecer? Sai fueeeeeeeeeeera! Já posso entrar pro RBD? E só eu sempre sonhava (de sonhar mesmo, não de desejar até o último dia) que ficava sentado no banco de trás enquanto o carro andava sozinho? Acho que era o piloto automático. Acho não, tomara. Sempre acordava assustado.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Mas ein, Marina

Mesmo não indo a um funeral com ela pra saber, viraria festa, provavelmete. Não é de hoje a certeza que de tudo teremos um monte, mas uma ruiva, ah, ruiva é só uma. E nem é pela cor dos cabelos, já que poderia ser loira morena parda bugre cheia de cachos até a altura da cintura quase da minha cor do pecado, Marina sempre seria Marina. Com todos os rascunhos, vontades, segredos e carnavais. Tanto faz a descrição quando o objetivo é desejar feliz aniversário, tanto faria se eu te visse apagar a vela depois de um gole de caipirinha, minha cerveja do lado. Mas, parabéns, linda, na falta de um abraço regado de lágrimas das quais já sequei só com o polegar pra não borrar a maquiagem. Dizer que ainda quero jogar golf é só desculpa pra ter você aqui e ver todo mundo com aquela cara de bobo do tipo "ô, apresenta aí!". Não que eu fique me gabando das amigas bonitas que me deram/consegui, só gosto do efeito que você causa nas pessoas, isso que elas não sabem metade.

O mundo é seu, minha ruiva, e que eu sempre caiba nele.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Dos bandoleiros IIII

Hoje estamos em Boston, nós dois, um a masturbar o outro. No período do dia em que ela está na universidade, geralmente as manhãs, pego o subway e vou a Harvard. No silêncio da biblioteca armo intrigas pro meu próximo romance. De alguma forma ela será a personagem central. Mulher de escritor é uma infeliz. Vive sendo sugada por ele. Bastou um gesto, uma palavra, um certo olhar, que pronto! Lá está a infeliz mulher do escritor transposta para o papel. E o pior que geralmente é sugada em seus pormenores mais submersos, naquilo que ela mesma nem sabe de si. Quer roubo mais torpe?

Dos bandoleiros III

É aquele sentimento gozoso que sentimos quando alguém se dedica um pouquinho a uma perte do nossos corpo, seja nos coçando as costas, nos penteando, ou só um desapercebido toque. Ficamos ali, não querendo acordar do sonho, desprezando tudo o mais, rezando para que a pessoa se esqueça da vida e permaneça ali, com aquela honrada missão de nos manter no céu.

Dos bandoleiros II

O que eu poderia desejar de mais interessante? Montar no Brasil uma luta entre mim e Jill. Penso na força do espetáculo: eu de jeans e sem camisa, ela de míni vermelha, as unhas elétricas arrahando minhas costas. Poderia tocar Ray Charles, sem qualquer alarde, baixinho por aí.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Dos bandoleiros

Pedi mais cerveja. Steve também. Comecei a me desligar do que ele falava - atitude antiga e banal em mim, que preferia quase sempre ficar com minhas ideias do que ter de fabricar conversas. E naquele dia, eu estava sendo muito especialmente o que tinha sido até ali: um verdadeiro utilitarista. Só me interessavam aqueles que me abriam um pouco mais a clareira do sonho. De historietas e historinhas eu andava cheio. Queria um interlocutor que viesse e me dissesse claramente que meus miolos sonâmbulos eram viáveis. O resto eu já aprendera tudo. Tinha chegado a uma espécie de insensata sabedoria que me retirava dos contatos humanos sem eu mesmo perceber.

domingo, 23 de maio de 2010

É ou não é

Já repararam na subliminar aceitação de "sou idiota" que as pessoas aderem ao se encontrarem numa relação? Há quem busca a junção por gostar de encher a cabeça com briguinhas construtivas, há quem prefere a paz de um cobertor dividido. Todo mundo tenta usar a relatividade pra explicar as coisas, então vou entrar na dança. Já que ao mesmo tempo uma pessoa pode te tirar o sono, mas faz dormir profundamente só de estar com as pernas entrelaçadas. Deve ser isso! Os altos e baixos mais normais do mundo, que causa e solução dos problemas. Não vejo nada de estranho num casal brigar gostosamente antes de sair do trabalho, na maioria das vezes eles só encontrarão a felicidade do dia na hora que voltarem pra casa, quando a cama vira a receita de motivação pra acordar amanhã cedinho e passar o café. Vai ver eu sou muito precavido sobre isso, não que eu ache que seja. Por mim, prevenção tende outro assunto.

Gostar do gostinho de ciúme não me faz ir pro inferno,
mas gostar de perfume atrás da orelha quase me ergue até o teto.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Enquanto aquilo na lanchonete...

Como já era de costume, a gente sempre se encontrava na lanchonete, bem no finalzinho da tarde. Não me atrevia nem a leva-lá pra casa depois, como se fosse pra me guardar prum dia exclusivamente (e necessariamente) nosso. No domingo era diferente, eu triste ou feliz pelo resultado do futebol, ela jurando pra mim que o regime (receitado pela avó) ia ser posto em prática na segunda.
Era esse terminar da semana (mesmo que teimam em dizer que domingo é o primeiro dia) que me fazia começar tudo de novo. O fato da lanchonete era só um detalhe, nunca comi nem a batata frita daquele lugar. Mas um dia ela foi fechada, o dono foi embora e nem sequer deixou pista. Parece que o amor foi junto, pegou carona pra algum lugar que mesmo se eu pudesse ir, não iria por não saber.
Agora a gente se enconta de vez em nunca numa pizzaria, ela deve trabalhar lá, vai saber. O negócio é que eu não gosto de massas, infelizmente. Depois fiquei pensando se ela fosse a entregadora, acho que eu pediria só pra poder ver os olhos dela pela viseira do capacete.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Enfim, hoje

Aqueles dias que a gente fica o ano inteiro pedindo pra São Pedro, e nessa ordem: acordar, café, sucrilhos, ler, chuva, sofá, coberta, sol & frio, coberta, sacada, Samba a Dois, meia de dedo, Vick, sereno, frio, passar frio, Maria Rita, não ter guarda-chuva, vento no rosto, banho quente, coberta, e agora, uma cerveja & Los Hermanos.

Quase troquei minha tv num jeito de te levar.

Por não esperar mais nada

"Quisera te falar de novo, bem baixinho, no escuro acetinado que ainda ecoa delírios. Quisera te levar ao baile, ao luar, ao jardim, à galeria de arte, ao inferno... pois seríamos nós." Mesmo que dissesse pra Fernanda do autor, pra Bruna do ônibus, pra Brenda da padaria, pras Marinas de tantas cidades, pra quem aleatoriamente fosse, seria quase em vão.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Tirante a azul

Não sei de onde vem esse compromisso pregado de que mudar seja o segredo da felicidade. Mudar o que? De casa? O número do celular? A cor do cabelo? O perfume? Vai lá então, muda tudo. Cai de peito aberto e perceba que renovar é uma palavra tão mais bonita, tão mais. Até o prefixo 're' não se atreve a dobrar a vogal.

Releia, se for preciso.

terça-feira, 16 de março de 2010

Pra dar uma rapidinha

É o tempo imaginário que imploramos pra podermos dormir mais um pouco. Da minha casa até o mercado, contando a ida e a volta. 5 minutos a mais pra ficarmos enrolados no edredons gelado já que não tem quem esquente o outro lado da cama. Pro nosso time desempatar o jogo na final do estadual. Pra conferir as respostas daquela prova fudida na recuperação de literatura que eu nunca iria imaginar na vida aquela professora bonitinha passando. E mais, cada vez mais, os minutinhos decisivos pra fazermos algo que não fizemos antes por falta de emoção, e não de responsabilidade. Já que de qualquer forma iremos resolver. Não há porque levar esses 5 minutinhos como uma maneira de recuperar o tempo perdido. 5 minutos não mata ninguém, ou mata?

(Obs 1: 300 segundos entre a primeira e linha essa aqui)
(Obs 2: Tô com fome)

segunda-feira, 15 de março de 2010

A esperteza de quem só vê de longe, mas não chega perto


Não que o espertinho que te observa depois das 22 seja um gênio. Ele só é um espectador das suas curvas que eu já conheço tanto, sei até a intensidade do freio, e nem precisei morar no décimo segundo andar do prédio da frente, muito menos precisei acompanhar o seu andar até a beira da praia. Já te encontrava na primeira onda, na primeira remessa de areia quente que encomodava entre a sola do pé e o chinelo. Assim de longe, te vendo tão atentamente, como se eu estivesse sendo obrigado a fazer algo que gosto. É contraditório, e ainda bem, não mais que seus motivos e desculpas de mulher.

Mas sobre ser gênio, sou quase seu Einstein, seu Tarantino, até mesmo Chaplin, já que a gente se entende tanto no nosso cinema mudo.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Pr'eu saber seu redor

Desci pra Paquetá, onde já ouvi falar de Yarusha e suas vontades que não morreram na praia. Aliás, nasceram de novo, mais atiçadas ainda. Cabelo liso, sempre com sal, como se fosse sempre o mesmo tempero. E não me deixava mentir, era cheia desses gostinhos que só sentiremos uma vez na vida e fim. Cansei e fui pra Niterói, onde nunca ouvi falar de alguém, onde as praias tentavam (só tentavam) ser mais bonitas que Itapema e Tijuca.

Cansei e vim embora, onde já vi e ouvi falar de tudo e de todos. Pra me lembrar que apesar da falta de beleza comparada ao resto do mundo, nada é mais satisfatório e calmante, essas avenidas nos cortando naturalmente como em todos os outros dias e noites, porém essas menos memoráveis. Ficando assim, sempre querendo de novo e com saudade, mas nunca tampando os olhos ao ato de expandir nossos horizontes, até se só criados pelas imagens.



sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

First time: Todo carnaval tem seu fim

Nunca fui muito de entender quando falavam que brasileiro só acorda pra vida depois do bendito Carnaval. Achava até uma afronta com as pessoas que trabalham até mesmo no natal. Mas realmente esse negócio liberta a alma.

Esse ano me refugiei numa fazenda, fugi da micareta, me meti em outras coisas. Camionete jorrando lama, cerveja gelada, garganta ferrada, blusas molhadas pelo sereno, cachoeira iluminada pela lua, viola sem pirilampo. Pessoas guarapuavenses (ou vanos) me fizeram bem, todas, umas mais, outras menos. Caso não acreditarem no natural. Não no natural das pessoas, no da natureza.

Essa aula tá um inferno, a Ju e a Sté não calam a boca.