sábado, 15 de dezembro de 2012

Aquela sensação que só bate em dezembro

Uma vez eu tive um sonho muito estranho. Mesmo que sonho por sonho já seja uma coisa estranha, mas esse foi mais ainda: eu havia chegado no colégio e todos meus amigos tinham nome de mês. Maio, Abril, Julho, Setembro, assim por diante. Os doze meses, bem certinho. E, por incrível que pareça, o que eu mais me dava bem era Dezembro. Janeiro - mês do meu aniversário - ficava com ciúmes, mas não era algo que eu pudesse controlar. Dezembro sempre me compreendeu mais, dava os melhores conselhos e quando eu tinha vontade de jogar algumas coisas pro alto era ele quem vinha e mostrava todas as coisas bonitas que aconteceram. Pra que assim eu tivesse forças pra começar tudo de novo. Desde janeiro até hoje, meio de dezembro. E é bem nesse momento que bate aquela sensação gostosa de que o ano foi bom.

Caralho, como o ano foi bom!

Desde todas as coisas materiais (mesmo que ainda fúteis) até todas as pessoas novas que entraram em nossas vidas. Até as que já saíram. Principalmente as que ainda vão voltar.

Naquele sonho eu também havia feito uma tabela pra selecionar as melhores coisas que cada mês havia me oferecido. E dezembro não tinha nada. Ele só me ajudava a mensurar, agradecer e definir as lembranças. Aliás, lembranças essas que nós agora lembramos juntos. Cada detalhe das poucas oportunidades que tivemos de dividirmos a vida, a cama e as piadas um com o outro. Mas tem horas que eu ainda me pergunto quais eram as possibilidades de dar certo - e agradeço por ter dado. Algo que nem você, muito menos eu imaginaríamos: te achar assim, do nada, numa cidade que nunca foi minha e não era mais a sua. Mas que mesmo assim fizemos nela a nossa romaria.

Aí Dezembro também fez questão de me parabenizar por alguns esforços. Por ter deixado alguns confortos de lado pra fazer alguém feliz na hora de acordar. Mas eu disse pra ele que mais que um compromisso com te ver acordar daquele jeitinho, eu tinha um compromisso comigo. E sempre vou ter: fazer por merecer as coisas que tenho vontade, junto com as pessoas que merecem. Dezembro achou bonito e quis ter sido Novembro. Só pra ter vivido comigo a alegria plena que é fazer carinho na sua barriga, te beijar na frente do espelho, te ajudar a escolher uma roupa porque de-noite-vai-fazer-frio e poder dizer em voz alta que em qualquer circunstância da vida você vai ser uma pessoa linda.

Mas garanti pra Dezembro que no ano que vem ele estará regado de várias outras sensações como essa. Justo essa sensação que só bate em dezembro. Justo essa sensação que só depende da gente.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Qualquer insensatez de hoje em sempre

Sabe quando você para pra pensar no sonho de outras pessoas? Aqueles quase impossíveis, tais como virar astronauta, piloto de Fórmula 1, dono de cassino. Tudo isso que as pessoas que hoje são já nasceram precedentes de um contexto que esteja ligado ao sonho. Ou o sonho é continuar o sonho de gerações passadas. Não que eu esteja duvidando da capacidade humana, mas sonhos assim, a longo prazo, se tornam tão vulneráveis quanto a gente se prometendo que hoje, hoje sim vamos dormir cedo. E nunca vamos.

Já os sonhos a curto prazo, ao menos pra mim, são bem mais válidos. Sonhar com uma viagem de fim de ano e ao menos tempo sonhar com ela durante o ano todo. Sonhos que só são sonhos se outra pessoa pode completar. O casamento, por exemplo, em suma sempre será algo bonito. Mas e se não for com aquela pessoa que você ama o suficiente? Aliás, ainda existem pessoas que casam por conforto? Como se a vida fosse realmente se tornar afável se o colo em questão não é o colo que conforta.

Eu tenho medo. De verdade. Não pelo que eu possa sentir, mas por tudo aquilo que alguém demonstra sentir por mim. Ainda mais quando só demonstrar não significa transmitir o real sentimento. Tenho medo porque já fui assim. Já disse coisas que não eram verdades. Já ouvi coisas que eram menos verdades ainda. Mas também sei que não é um medo que me impede, que me sufoca ou que me bane de qualquer coisa que possa florir de novo. E essa é a única metáfora que cabe. Que criei há tempos e nunca soube se eu estava certo: a gente planta a semente lá dentro, rega e vê crescer. Talvez ela sustente. Talvez ela nem tenha cor. Talvez ela não pare de florir.

Mas sabe o que é melhor? Eu sinto. Ainda assim, de longe, eu sinto. E o que sinto não bate e volta como eu achei que aconteceria. Toda essa coisa me abraçou como você me abraçaria. E mesmo quando às vezes a gente se solta, a-coisa-toda não larga do meu corpo. Mas sabe o que é melhor ainda? Ela se agarra em mim em forma do seu cheiro. E é impressionante como eu já sabia como esse texto iria acabar. Só mais outro sonho a curto prazo, mas que sonhei o ano inteiro.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Da arte pra cá

Já aceitei pra mim mesmo que aqui na internet a gente sempre vai criar um mundo um pouco mais surreal do que realmente acontece. E se antes já era assim, com a tv, o cinema e a música, agora é uma soma de tudo isso em um só lugar. Todas aquelas coisas criadas por pessoas reais, mas que são só ficção. Às vezes pode até ser baseado em fatos verdadeiros, mas sempre vai ter um pingo de ilusão.

Mas aí eu parei pra pensar nas cenas clássicas de filmes, nos refrões que são decorados automaticamente por nós, meros apaixonados por qualquer tipo de arte que nos faça sentir algo além da pele. Parece que criei um esquema que sempre vai enfatizar todas as cenas que os sonhadores almejam tanto em suas vidas e que eu já vivi. Quer um exemplo? Aquela cena bonitinha do filme chato pra cacete da sua querida Amélie Poulain. Me sinto bem por ter beijado os olhos de alguém antes de conhecer essa história.

"I remember the time you drove all night just to meet me in the morning." Olha só como essa frase daquela música que você gosta cabe em mim. Justamente por eu ter viajado, de fato, uma madrugada inteira só pra te ver um pouco antes do almoço. Essa, entre tantas outras coisas suas que servem mais pra mim do que pra você, já que eu fiz questão de tomar o seu melhor pra mim, pra transformar o meu melhor contigo por perto, quando surgissem as oportunidades.

Mas a questão é que eu só vivi todas essas cenas e letras tão requeridas pra vida real por sempre soube que a nossa realidade nunca poderia ser colocada num papel, numa foto, num roteiro qualquer. Até mesmo quando nossa realidade era algo impossível. Mas tu tá aqui, mostrando pra mim que não. Tu tá aqui passando mais um café ruim-de-amargo que só você faz. Esse café que eu tenho que colocar duas colheres grandes de açúcar pra eu não precisar fazer cara feia. E a cada gole desse café quase frio me vem o conforto de saber que se você fosse qualquer outra pessoa eu não sentiria tanta segurança. Desde a nossa primeira vez, que de cara você deixou eu ser o que mais sei: carinhoso. Acho que você precisa de mim, assim como seu café precisa de açúcar. Assim como talvez eu precise de você.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Por desgosto, porque gosto

Desaprendi a decifrar as suas vontades. Desaprendi a comprar seu bolo preferido depois do trabalho. Desaprendi a prender seu cabelo com aquelas canetas azuis que sempre tinham de montes na sua bolsa bonita-porém-falsificada. Desaprendi até a te enganar sobre essas bolsas que nem sempre podiam conter a etiqueta quase platinada. Essas bolsas falsas que você fingia estar satisfeita pois entende que prefiro pagar 5 diárias em um hotel com café da manhã caprichado pra nós dois do que gastar com uma bolsa tiracolo. E quanto menos bolsa tiracolo, mais colo você pedia. Mais colo eu te dava.

Nós, que sempre fomos um casal independente desse olhar social e estagnado que nos cerca, hoje estamos a mercê de qualquer pessoa que queira nos classificar como um casal cansado do próprio casamento. Mas eu não queria que isso acontecesse. Tanto que fui até a casa dos meus pais e fiz eles contarem toda a história do casamento deles - que, pra mim, são a prova maior de que a junção e as alianças podem ainda dar certo na vida de duas pessoas. Mas eles não quiseram me contar os podres que existem em viver 25 anos comendo a mesma pessoa. E que raiva me dava dessa curiosidade sexual que meus pais têm perante a gente. Deu vontade de falar pra eles que nós fazemos sexo todo dia de manhã. Deu vontade de falar pra eles que eu e você transamos na cama deles várias e várias e várias vezes enquanto eles iam até a padaria comprar mais pãozinho francês. Depois eu e você comíamos pão francês com Fanta sem gás com aquela cara de tanto faz se essa merda parece suco de laranja, o importante é que nós acabamos de transar e eles não sabem. E na cama deles! O pior é que não sei se eles achariam isso um puta desrespeito. Meus pais sempre souberam que minha vontade era casar com você desde que te levei em um domingo de almoço, mas que a comida só ficava pronta depois das 4 da tarde.

A gente descansa sem for preciso. Não te obriguei a gostar das minhas camisetas desbotadas, não vou te obrigar a ficar comigo pra sempre. Só trate de não esquecer que qualquer coisa que eu faça por nós, mesmo que comece por desgosto, acabo fazendo porque gosto. Tu é e sempre vai ser essa coisa cheirosa e enigmática que carreguei prazerosamente comigo. E tentarei sempre carregar. Se começar a pesar demais em minhas costas, pode deixar que te aviso. Mas acho que não.

domingo, 21 de outubro de 2012

É simples, mas deu saudade

Lembra quando te mandei aquele cartão postal escrito "quero tomar banho com você"? Achei ele hoje na sua caixa de coisas-velhas-que-são-importantes. Tanto que, pra mim, a caixa é mais importante que as próprias coisas velhas. Lembra também que em todos os nossos banhos você reclamava que o chuveiro pingava gelado a cada sete segundos? E quando o sabão entrou no meu olho e você tentou passar minha dor dando beijos e me secando com a toalha suja de nossa vida? Você lembra?

Às vezes eu acho que não deveria ter ido embora. Ou que deveria ter ficado um pouquinho mais, só pra sentir a certeza de que tomar banho contigo nunca vai ser tão bom no seu banheiro de azulejos de cozinha. Onde já se viu, cara, azulejos de cozinha num banheiro? Que sagrado era aquele lugar. Mais bonito ainda era ver sua expressão indignada quando a conta vinha o dobro do que era programado pro mês. Aí a gente resolvia mais esse impasse onde qualquer problema do mundo vai junto pro fundo do ralo: no banho.

Seu cabelo ainda é gosto de lavar? Você usa o mesmo sabonete rosinha com cheiro de sol nascente? O abre-fecha do seu box ainda faz aquele barulho de porta em filme de terror? A janela virada pro prédio lilás ainda é quebrada e entra vento gelado no inverno? Aliás, quer tomar banho comigo de novo? Prometo que tô voltando.

domingo, 14 de outubro de 2012

A própria busca

Pra onde você foi, menina? Tão longe pra longe de mim que só lembrei agora que não me mexi quando te vi sair, mas quis saber o caminho que tu fez caso eu quisesse te buscar mais tarde. Só que você fingiu e foi sem nem falar como, pra onde, se voltaria, se sentia saudade ou se queria que eu buscasse. E me dá um fervor horrível no coração saber que quem eu tanto queria se tornou a pessoa mais indiferente entre todas as pessoas diferentes que já conheci. Será que todas que eu conhecer daqui pra frente também vão se tornar amenas e levianas assim um dia? Será que acontece com todo mundo e todo mundo não se importa como eu me importo? Será que vale a pena eu não criar uma armadilha contra mim mesmo e parar de me enganar sem qualquer esforço pra acordar e não deixar isso acontecer de novo? Ou será que eu tô e sempre estive certo e vocês estão errados por acharem que as pessoas vêm e vão sem mais nem menos?

Que merda é escrever se questionando se o correto é escrever pra se encontrar. Mas caso tu me encontre, me diga onde é que eu me busco. E te trago junto.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Esse sambinha é seu

Quase te liguei durante o almoço pra pedir um jogo de cordas novas, mas aí você iria saber que tirei o violão do guarda-roupa de novo e fiz outro sambinha pra gente se encontrar. E o pior é que fiz mesmo. Sambinha acanalhado, resultado de muitas tardes ouvindo Bezerra da Silva e Elis. Mas esse sambinha novo não é como os velhos em que eu insistia em rimar amor com dor. Esse sambinha novo é novo mesmo. As estrofes estranharam a forma como foram escritas. Até as rimas me olharam torto, como se eu estivesse falando que Chico não sabe cantar "Ligia" do Tom.

Aliás, em outros tempos esse sambinha te faria chorar de emoção por saber que um cara apaixonado por cheirinho de pós-banho criou versos pensando no seu jeito gostoso de me acordar e fazer dormir. E depois de chorar você ligaria pra alguma amiga e ela daria risada da sua cara, pois música com nome de mulher se tornou brega desde que aqueles barbudos fizeram ecoar a sem-coração da Anna Júlia por todos os cantos do país. Mas que culpa tenho eu se a mulher da minha vida resolveu ter o nome mais bonito também? Aproveito pra declarar que se essa coisinha linda que já samba no seu ventre for uma mocinha, quero que o nome dela seja o seu. Que honra poder dizer que as duas pessoas que mais amo têm o mesmo nome, mesmo sangue, mesmo bocejo, mesmo cabelo enroladinho e o mesmo amor por mim. Assim os sambinhas que são seus também serão dela. Assim como eu. Inteiramente seu, inteiramente dela.

Vem logo me ouvir. Meu sambinha quer te ver sambar.

domingo, 30 de setembro de 2012

Quando você re-prova e nem sabe


Pensei que minhas finitas necessidades já tinha acabado quando te deixei em casa. Mas você saiu do carro com um sentimento que se sujou quando eu mais tentei limpar. Essa sua mania de deixar tudo meio piegas e clichê sempre me deixou meio encucado, justamente por você gostar de usar as palavras "piegas" e "clichê" quando quer explicar sensações que, pra mim, sempre foram tão normais.

Tesão não se explica. Saudade não se explica. Vontade de beijar alguém, muito menos. Você pode explicar matemática, semântica das cores e botânica, mas as coisas que ferem por dentro e na mente, pode esquecer. Quanto mais explicações, menos você mesma vai entender.

A diferença entre você e eu é que eu tentei te explicar que coisas inexplicáveis só precisam ser sentidas. Ser-sen-ti-das. Mas é claro que você preferiu estudar matemática, semântica das cores e botânica. Ao menos sei que a culpa não vai ser minha quando você reprovar, de novo, quando botarem seu coração à prova.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Só pra me contradizer

Eu tinha prometido pra mim mesmo que só escreveria quando estivesse pleno de coisas boas e pudesse transparecer de alguma forma. Do mesmo jeito que alguns cantam e dançam, eu só tentava escrever - sem rascunhos, pra ficar o mais verdadeiro possível - e imaginava o tanto de gente que se identificaria. Mas hoje, só pra me contradizer, me obriguei a fazer o contrário.

Sempre concordei com a teoria da minha tia que pessoas muito felizes são metade infelizes e não sabem disso. Não há pecado em enganar o mundo com uma felicidade eterna, o problema é se auto enganar e não melhorar nada quando a tristeza bate. Mas olha só, galera, quem tá triste e admitindo. Olha só quem tá de bem com o mundo e de mal por dentro. Mas minha tristeza não afeta quem tá perto, muito menos quem tá longe. A minha tristeza corrói quem deve ser corroído: você mesmo, Marcus.

Mas admitir algum tipo de tristeza me dá o direito de só ficar deitado se lamentando? Por que todo mundo pode reclamar e eu não? Agora posso, né? Minha tristeza também dispensa conselhos. Dispensa abraços, beijos, carinhos e tentativas forçadas de levantar meu ego. Minha tristeza é nada mais que triste e acaba morrendo. Nem chega a virar felicidade. Morre e pronto. Não acho certo misturar tons de cinza com colorido, como se uma coisa tivesse a ver com a outra. Essa tristeza talvez seja uma amiga cansada de mim. Daquelas que querem dar uma volta ao mundo e sempre acabam no mesmo lugar. Mas eu não quero ser seu amigo, tristeza. E de tanto que não quero ser seu amigo, também não quero ser seu inimigo - já que todo inimigo tem algo em comum com a gente. Pode reparar. Aí você odeia mais ainda o inimigo por martelar na cabeça a ideia de que ele não pode parecer nada contigo. Apesar de parecer.

Sendo assim, dona tristeza, pode me sugar enquanto aguenta. Quando eu levantar você vai ver que meu sangue limpo vai te sustentar só por algumas horas. Depois disso ele vira barro, terra bem vermelha. Sangue meu não sai do meu corpo por pouco coisa. E você é tão pouca que, quando a felicidade limpinha e renovada chegar, você vai entender sem eu precisar falar nada.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Aí eu li que palavras não ditas são eternas

Deixa eu te contar que hoje fui de novo naquela única-livraria-cheirosa da minha cidade e esqueci de lembrar de você. Sabe aquela lá que você comprou uma revista só por causa de um poster do Led Zeppelin? Então, essa aí. Aquela que você sempre saía já pedindo pra tomar milk shake e sempre pedia de morango e sempre me oferecia mesmo sabendo que eu odiava aquela merda que não fosse de ovomaltine.

Como sempre foi uma mania nossa, tirei a sorte e peguei só um livro. Só um-zinho, como se ser seletivo com livros fosse um exemplo sobre como ser seletivo com pessoas. E, por incrível que pareça, dessa vez escolhi mais pelo nome do que pela capa. Até porquê se eu pudesse escolher o nome de alguém pra me apaixonar, certamente seria Antonela.

Acredita que nunca conheci uma Antonela? Só Manuela, Manoela, Gabriela, Estela. Pelo menos terminam com ela.

Falando no livro, também lembrei da nossa mania de achar algum parágrafo bom e imaginar que todas as outras páginas fossem tão boas como aquelas poucas frases. Aí eu li que palavras não ditas são eternas. Aí eu lembrei que você sempre reclamava que eu falava demais, explicava demais, queria saber demais. Aí eu lembrei que eu te achava meio babaca e morta-pra-vida por sempre viver encolhida em lugares que não eram na minha cama. Aí eu lembrei que até quando eu te chamava de babaca e morta-pra-vida você reclamava que eu falava demais. Aí eu também lembrei que mesmo falando demais, eu também fazia demais. Consegue entender? São dois pesos que não eram equivalentes pra uma alma que se acostumava com tudo meio leviano. Mas se eu nunca quis isso pra quem só almejava coisas boas, imagina pra mim. Imagina só, sua babaca morta-pra-vida, se eu ia querer pra minha vida uma pessoa que só funciona na base do café.

Depois eu cansei de tentar limpar a sua barra, pois já que você nunca se ajudou, eu que não faria. E se eu voltei nesse assunto foi só pra mostrar pra mim mesmo que consegui entrar naquela livraria e esqueci de lembrar de você. O problema é que quando saí e me toquei disso, acabei lembrando mais uma vez.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Das cartas não são escritas porque a letra é feia


"Que ruim essa sensação de querer falar mil coisas e não saber como começar. Da mesma forma que foi ruim a sensação de querer ter ficado aquela vez pra assistir ao show com você e não pude. Sem contar em como queria ter ficado com você na praia, no meu quarto, em Curitiba. Fazia tempo que eu não sentia tantos empecilhos decorrentes de tantas coisas boas. Fazia mais tempo ainda que eu não me lamentava por ter que sempre me despedir de alguém. Sempre. E sempre em uma hora em que eu já havia me acostumado com o cheiro.

Aí comecei a escrever esse texto já pensando na abordagem das frases, sobre o que tomar cuidado pra não te deixar mais apaixonada por mim, sobre o que tomar cuidado pra eu não parecer, de fato, mais apaixonado por você. Daquele nosso jeito de se querer – que não se aprende com livros e filmes, com conselhos de amigos, com relacionamentos passados. E dentre tudo o que aprendi contigo, foi justamente isso a coisa mais palpável: eu aprendi, meio sem perceber, a gostar de você. Justo você que se estressava e me estressava com seu ciúme exagerado. Justo você que não era minha e a acabou sendo por algo que ficou guardado desde 2009, por aí. Justo você que eu sempre via com alguém, menos comigo. E quando foi minha, eu não pude acreditar. E quando acreditei a gente já estava longe demais.

Mas gestos assim, como a sua carta, são tão simples e sinceros quanto fazer uma janta em um dia de semana sem significado algum. Tudo bem se a comida for muito salgada, na verdade o que importa é poder beijar teu pescoço enquanto você tenta se concentrar na louça. E que raiva desse teu pescoço que é tão teu. Que raiva por eu não encontrar por em um loja qualquer e poder vendê-lo pra quem eu quisesse fingir ser você. Mesmo que essa ideia de te substituir não te agradasse. Mas bem que tu podia emprestar seu pescoço pra mim, né?

De resto, amor, pode ficar. Se a nossa plantinha brotou quando não deveria, me desculpa por ter ajudado a regar quando não era a hora. Mas a porção de água era muita. A vontade de vê-la crescer era maior que o medo de vê-la morrer por falta de cuidados.

Amo você. E sem essa de que você seja feliz com todos os seus outros. Você sabe que eu não sei fingir que aceito essas coisas. Não querer te ver triste é fato, mas quando quiser felicidade plena, tomara que ela ainda seja pertencente a mim. Assim como um dia você também foi."

SÓ PRA DEIXAR CLARO: A "SEMENTINHA" NÃO É UM FILHO(A)! Calma, galera.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Carta pra deus e o mundo

Hoje me falaram de novo que você vai voltar do céu. Que tu não tá com pressa, mas vai voltar. Sabe o que eu acho? Volta mesmo, deus. Volta que tá foda. Mas quando voltar, faz assim: separa direitinho quem merece penitência e quem merece só um dos sermões que seus devidos padres já fazem. Aliás, sermão seu deve ser mais tenso, né? Ainda mais em latim.

Mas vamos lá. Quem merece penitência? Vê aí se tu concorda comigo: se há leis jurídicas, religião, perdão - nisso aí eu não acredito nem com as moedas de ouro do seu tempo, foi mal -, uma porrada de coisas que fazem os humanos se redimirem de qualquer mal que possam ter feito, então acho que tu pode fazer assim: o sermão fica pra galera trash-porém-de-mente-aberta, a penitência vai pra quem nunca se permitiu sentir algo insaciável. Sabe? Aquele tipo de pessoa que não teve compromisso com a própria vida. A vida que, supostamente, você deu a ela o direito de viver. A pessoa veio ao mundo e se limitou a todas as obrigações impostas pelo próprio mundo - e não as suas. Sabia que no seu planeta redondinho (quando achavam que era quadrado você deveria rir muito, né?) criado em 7 dias ainda cabe gente assim? Esses dias conheci alguém que admitiu nunca ter sentido vontade de gritar, sendo que gritar é uma das poucas coisas que não se tornaram pecado aos olhos de quem só prega a sua palavra. Que sentido tem a vida sem o prazer de gritar? Sem gritar de prazer? Ein, todo poderoso? Pra mim, tá aí o maior pecado de todos. Não-deixar-sentir. Pelo menos pedra de gelo derrete.

Valeu, por além de tudo, ser um bom físico, deus.

Mas calma. Deixa eu te contar que tem horas que eu quero muito acreditar na sua existência, mas os seus seguidores é que me fazem pensar o contrário. Tem horas que eu associo todas as coisas boas do dia-a-dia ao "poder" que nós encontramos nos sentimentos que você nos deu. Mas tem horas que porra, cagam toda minha fé.

Então, deus (se tu tivesse um nome próprio eu me sentiria na obrigação de usar letra maiúscula, não me julgue o pior ser vivo da terra por isso), se você voltar mesmo, olha bem praqueles que, por ventura, pecaram com o coração. Tenta também não olhar com cara feia. Cara feia significa fome. Mas, se for o caso, a gente divide o pão com o senhor.

Fica bem. Se vier mesmo, a gente te espera.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Tão-tão-tão menores

Só passei pra dizer que nesses últimos três meses eu me permiti criar um novo grupo de convivência e vivência. Aquele grupo de pessoas que vivem e sentem certas coisas sabendo do gosto meio azedo meio amargo da falta que faz depois. Passei também pra dizer que, depois desses três meses, ando me sentindo sobrecarregado de uma ressaca eterna. Como se eu estivesse a maior parte da minha vida numa festa open bar de saudade e agora chegou a fase em que me sinto na obrigação de me lavar por dentro, seja lá como for. Só que a saudade não te dá o direito de ter férias, nem paga sua passagem, nem sua gasolina, muito menos concede sua permissão - o que são empecilhos tão-tão-tão menores perto de tudo. Porém, mesmo assim, ainda assim, o que eu posso fazer é nada. Mas tô tentando. Juro que tô tentando.

O que corrói por dentro é reconhecer que existe um abismo imenso entre tentar e conseguir. Mas a gente consegue. É só o mundo não se desfazer.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Mil novecentos e noventa

Mais do que a vontade de não ter levantado foi a de não te acordar pra não precisar fazer café. Vou sair cedo, sem barulho. Não quis ser inconveniente, muito menos quero que pense que nunca mais vou ligar. Não é a nossa primeira, não quero que seja a última. Nem sei o que tu deve pensar quando me pego contando tudo o que, muito provavelmente, você não está com vontade de ouvir. Não quero parecer interessante, nem te encher com as prosas cansadas de uma pessoa cansada que crio pra te falar, como se isso me renovasse toda noite. E de improvisos em improvisos a gente se constrói com o que tem na mão. Como daquela vez em que te disse que se uma mulher rebola muito quando o funk toca significa que ela se perde nos passos da cama. E você concordou, mesmo não querendo admitir que minha teoria embriagada estava certa. Mas te provei. Bem literalmente.

E depois de tudo isso ainda estamos aqui, matando pra sobreviver, pois todos os desgostos que você me faz sentir na pele se transformam num texto forçado como esse. E que aqui ficam, até certo ponto, para quem quiser ler e perceber que nenhum dos nossos pormenores tristes são tristes o suficiente para ofuscar as alegrias. E que foi por isso que acho que vou te chamar pra morar comigo. Não quero mais sempre ter que cuidar pra não esquecer a escova de dentes antes de sair da minha casa pra sua. Num caminho quase tão maluco quanto deve ser ir pra outro planeta em uma contagem de tempo totalmente diferente do que a Terra está acostumada a seguir. Por falar nisso, hoje, em 1990, o Telescópio Hubble foi lançado no espaço. Tudo a ver, né? Não.

Te espero pro almoço.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Chorar sorrindo

No próximo dia 27 faria três anos desde a separação que ela nunca entendeu. Era uma relação tão saudável, fruto de uma história bonita de colegial. Maria queria casar no campo, Luis só queria casar. Casaram dentro de um quarto de hotel, sem padre, direto pra lua de mel. Cinco anos depois Bia nasceu. Carequinha, carequinha. Aprendeu a falar cedo e falava tudo, menos papai e mamãe. Criança não pode chamar os pais pelo nome, né? Pega mal, mas Bia podia. Ela sempre podia tudo.

O desgaste acabou sendo maior que a paciência e aí veio o divórcio. Maria ficou com a casa, Luis e Bia foram morar no centro. Apartamento pequeno, tudo bem, não precisaria de muito espaço. Ela teve mais dificuldades em assinar os papéis que a própria filha em aprender a conviver diariamente sem a mãe. Torcia pra que ele tivesse uma amante, pelo menos assim teria algum motivo para lamentar. Mas não. Talvez o motivo fosse, justamente, não ter mais motivos. Virou ameno, sem cheiro e muito menos sabor. Maria passou o resto dos dias sem saber se sentiria algo novo, de novo. Não sofreu de solidão, só tinha medo de estar com alguém mais uma vez.

- Você vem na minha formatura?
- Claro, filha! Quanto vai ficar o convite?
- Eu consegui na secretaria da escola um pra ti, precisa pagar não. Vai ser sábado, 20 horas, naquele salão de festa perto do ballet que você achava que eu gostava de ir.
- Tudo bem. Posso levar uma amiga? Ela vem me visitar no final de semana e não queria dispensá-la.
- Pode sim, vou conseguir mais uma cadeira na mesa porquê agora ficou lotada.
- Sua vó vai? E suas tias?
- Vão todas, até uma amiga do Luis. Acho que eles estão namorando.
- Seu pai namorando?
- É, eu acho. Ele não me conta, mas desconfio.

Maria sentiu uma dor no estômago. Resolveu ficar pouco na formatura da filha, por motivos óbvios. Se saiu bem, foi simpática, matou a saudade da ex-sogra, bebeu com as ex-cunhadas e aproveitou o quanto pode. Larice, a nova namorada, era linda. Loira (natural, ainda bem) e de sorriso frágil. Deveria ter, no máximo, 25. Ficou sentada o tempo todo, com uma expressão que Maria havia experimentado anos atrás, a cara do primeiro jantar com a nova família. Bia se despediu da mãe e foi aproveitar a festa. Luis parecia 15 anos mais jovem.

Agora ela não tinha mais escolha: aceitava ou aceitava. Passou meses sem o mesmo contato de antigamente com a filha. Bia não estranhou, sabia o quanto a mãe ainda amava o ex-marido.

- Oi? Quem fala? - Larice atende.
- É a Maria. - meio gaguejando, meio querendo dar risada.
- Oi, Maria! Você quer falar com a Bia? Vou chamar, só um minuto.
Ela sorriu. Falar com Larice parecia ser ruim, mas não era.
- E aí!
- Ela é legal, né?
- É um amor, mas para de ciúme.
- Tá bom. Mas viu, você ainda tem aquela caixa de maquiagem que te emprestei pra formatura?
- Sim, tá aqui guardada, quer vir buscar?
- Vou passar amanhã cedo, ou você vai estar na aula?
- Não não, pode vir, resolvi estudar a noite pra cuidar de Larice durante o dia.
- Cuidar por quê? Ela é tão nova que ainda não aprendeu a não bagunçar a casa inteira?

Bia preferiu não responder e apenas disse para que a mãe ligasse quando estivesse chegando. E assim foi feito. Tocou o interfone e subiu. A filha abriu a porta e a convidou para entrar. Maria tinha uma reunião importante logo depois e resolveu se maquiar ali mesmo, não haveria problema. Foi até o banheiro, Bia sentou no chão e começaram a conversar:

- Que cheiro bom é esse? A Larice tá fazendo almoço?
- Não, ela tá no quarto vendo tv.
- São quase 11. Seu pai nunca me deixaria ficar deitada até as 11.
- Ela não tem escolha. Entre sentar e deitar eu também iria preferir ficar deitada.

A mãe não entendeu e continuou se arrumando. Blush, batom, delineador, perfume, chapinha, sapato, cinto apertado e discurso treinado. Quando escureceu o último dos cílios reparou em duas barras de metal dentro do box, na parte do banho. Como se fosse um corrimão. Em volta do vaso sanitário também. Saiu do banheiro e percebeu que a casa inteira era assim. Foi até o quarto e viu a cadeira de rodas encostada na parede ao lado cama. Larice dormia, provavelmente sonhando em voar. Bia não quis contar por não saber quais palavras usar. Disse que a madrasta sempre foi assim, desde os 10 anos de idade, e que Luis havia se apaixonado logo depois do divórcio.

Maria desmarcou a reunião e foi para casa. Chorou três dias seguidos, não de tristeza. Chorou pois descobriu do melhor jeito que um sentimento tão bom consegue prevalecer. Sempre. Mesmo aquele amor maior do mundo não sendo mais dela. Chorou sorrindo.

domingo, 11 de março de 2012

Aí ela disse: "Faz parte mas bem que não podia, né?"

Hoje eu acordei sem fome, sem sono, sem calor, sem nada. Com roupa, pelo menos. Acordei na maior indiferença, sem saber se as sensações normais da vida haviam sumido por desejo próprio ou se minha capacidade de sentir coisas mais importantes se tornou, consequentemente, importante. Passei o dia preocupado se isso seria bom ou ruim. Até agora não descobri. A verdade é que só tentei achar um jeito fácil e indolor de aceitar que honestidade não é algo que depende só de mim. Se eu for honesto com alguém não quer dizer que esse alguém vá ser honesto comigo. E entre todas as tristezas que o mundo pode jogar na nossa cara, talvez essa seja a que mais incomoda. Ainda mais por ter sido tão honesto. É triste saber que com o passar do tempo vai ser cada vez mais difícil achar quem seja tão límpida assim por dentro. Alguém que se sente bem justamente por não fazer o mal. Que se orgulhe de tudo que carrega no peito. Até o sutiã.

Mas não faz mal continuar almejando. Vai ver a gente erra por tentar consertar cada vez mais o que não vale à pena ser consertado. E se assim não faz bem, não há o que vá fazer melhorar.