Sabe, tem alguma coisa no
meio dessas noites que te trazem até aqui. Agora que a noite vai viver
praticamente ao meu lado, ainda bem que ela tem sempre alguma coisinha que traz
até aqui. E mesmo enquanto a noite engole todo o resto do mundo, ela arranja um
tempinho pra mim e eu sinto que você me leva pra um passeio, pra colher aquelas
flores que eu nunca vou saber o nome. Poderia comprar jujubas, salvar o mundo,
me candidatar a ser dono do seu coração. E esse passeio dura um tempão... com
algumas pausas pra chegar pertinho do seu rosto e entender que com o amor não
se brinca.
Mas
quando o sol bate você volta pro seu lugarzinho. E eu fico aqui: te buscando em
todos os cantos escuros da casa. Embaixo da cama, dentro do guarda-roupa,
gavetas e até atrás das cortinas. Fazendo figas durante o almoço, torcendo pra
que você confunda o dia com a noite e apareça também. E assim, quem sabe,
sem mais nem menos, todos os probleminhas que te roem por dentro dessem um
tempo pra gente. Porque olha só, eu sei que até eles gostam de
te assistir feliz. Eles pagariam pra te assistir feliz, amor.
Quero saber
se teu corpo também é viciado no meu. Se tua fala mansa é causa da minha fala
mansa. Quero gravar numa pedra alguma coisa sobre toda a minha atenção e o seu
lado da cama. Quero ficar preso no teu cabelo solto e te prender com as minhas
mãos em sua cintura. Quero te acordar cedinho e pedir pra abrir o jornal: toda
manchete vai dizer "ele veio pra ficar".