quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Me deixa, mas não muito


Me deixa, vai.

Não longe.

Me deixa fazer tudo o que for preciso pra dar certo. Me deixa esquentar suas mãos depois de você colocá-las pra fora da janela do carro pra bater o cigarro no inverno. Me deixa colocar teu número nos favoritos da minha agenda, pra eu te ligar rapidinho quando tocar de novo alguma música que você gosta enquanto eu compro lasanha de quatro queijos e sabonete no supermercado. Me deixa invadir sua casa num domingo enquanto tu dorme e sair segunda-feira cedinho depois que tu acorda. Me deixa dedicar pra ti todos esses textos que você diz que eu escrevo só pra comer menininha mais nova - que você pouco sabe, mas que tem muita mulher mais velha que também gosta. E que se fosse pra isso, foda-se, pelo menos não gasto cantada pronta ou mando trazer a bebida que pisca.

Me deixa te pedir pra não se maquiar quando estivermos só eu e você. Mas também me deixa te borrar toda de batom vermelho, já que não aguento muito tempo no mesmo lugar que você sem te beijar, mesmo sabendo que depois vou ficar parecendo um palhaço de circo falido depois do último show da turnê no interior de Minas. Me deixa fingir que também não entendo quando você diz não entender como é que a gente foi se apaixonar assim, mas que na verdade eu entendo sim e me faço de bobo pra um dia você perceber sozinha que estamos aqui porque, além de tudo, somos lindos e cheirosos pra caralho. E seria o maior desperdício do mundo estarmos com qualquer outra pessoa.

Me deixa falar baixinho no teu ouvido que tranquei a porta do meu quarto depois de entrar com você já aqui dentro. Me deixa esperar sua calcinha molhar mais um pouco, porque eu gosto de saber que você me quer de uma forma meio constante e progressiva ao mesmo tempo, já que não existe um jeito de ver como seu coração reage quando começo a tirar ela devagarinho.

Me deixa assumir os erros quando tiver, engrandecer os acertos quando eu fizer, adaptar os abraços quando você pedir. Me deixa te querer mais e mais. Essa é a única coisa que ando fazendo bem ultimamente e é só isso que me dá vontade de encarar todas as chatices de uma vida burocrática, cheia de gente que não sabe o que é ter alguém pra sentir o cheirinho da respiração quando se respira assim bem de perto.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Tempos verbais

Teve uma vez que um "casal" aí se desentendia muito por conta do jeito que ele gostava de se abrir. E ela se incomodava, por saber que, no fundo, algumas coisas eram pra ela. Então ela não aguentou e disse:

- É preciso ter coragem para escrever e publicar. Não só pela exposição, por colocar seus sentimentos para fora, que era o que eu costumava pensar. É também pelo processo, encarando todas essas dúvidas, remexendo em coisas que nem sempre se gostaria de ver, e, especialmente, pela perda do controle. Acho que um texto publicado deixa de ser de quem o escreve para ser de toda e qualquer pessoa que o leia. O autor perde qualquer controle sobre as interpretações, os sentimentos que desperta. Cada leitura é única e com isso o texto se multiplica em outros vários e novos. Cada desdobramento terá como dono aquele que, através da sua percepção, o fez nascer. Isso me parece interessante e até meio mágico. Mas já te disse, às vezes é estranho, visto que sei que é pra mim.

E ele disse:

- Na realidade, não é você que está se expondo ao comentar, justo pra mim, o que achou do meu texto? A diferença é que você não entende de tempos verbais. Você diz me quer. Quando me quer, me tem. Quando me tem, faz o que quer. E quando já fez, já não quer. E eu continuo querendo.

- Eu sei o que são tempos verbais.

- Mas não sabe o tempo certo de usar seus verbos pra mim.


Luna, cê é demais.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

De novo: lembrei de você

"Vai, pode me zoar. Você sabe que não faço a mínima questão de ser mais um cara que prefere meter uma baladinha ao invés de se sentir bem consigo mesmo e admitir uma saudade instantânea. E a sua vantagem é essa: não peço que a gente relembre todos os atos - longe disso, minha sensatez é rara e prefiro nos prevenir disso tudo. Mas eu gosto de te falar quando lembro de ti. Não mata. Fique Feliz, pois eu fico.

Não pelo roçar da água na pele. Não pela óbvia nudez. Não por nada do que fizemos embaixo do chuveiro.
O que mais me faz lembrar de você, querida, é ficar sem ar. É prender a respiração e enfiar a cabeça embaixo d´água, enquanto o xampu escorre. Contar os segundos sentindo a pele ficar menos e menos escorregadia. Esfregar o cabelo num cafuné rápido, e molhar as paredes, ainda com as vias aéreas fechadas. 

O ar é dessas coisas que a gente só lembra que existe quando faltam. Como o dinheiro, a pasta de dente, o nescau e a sua companhia. Ali, com a respiração presa, o gás carbônico querendo sair urgente, dá quase pra sentir o coração acelerar. O corpo quer uma coisa, abrir a boca e sugar oxigênio. O cérebro não deixa, pelo bem de todos. Qualquer criança aprendendo a nadar entende a definição de agonia. São aqueles instantes nos quais, depois de mergulhar, você tenta voltar à superfície, vê a borda da piscina próxima, mas o esforço te faz se sentir ainda longe. Enquanto não consegue tocar algo sólido e puxar o seu corpo pra fora, os pulmões sofrem e o cérebro fica meio confuso.

As mãos aceleram o ritmo para tirar logo o xampu. Preciso de ar. A precisão só me lembra você.

Claro, é mais fácil tirar a cabeça debaixo d´água e respirar, mas isso qualquer um faz. Difícil é a intensidade, aguentar a falta e continuar tirando o xampu e a sujeira. Do corpo, do coração, de onde quer que você queira imaginar.

Sufocar é sentir uma queimação nos pulmões e o ritmo cardíaco acelerar, pedindo logo a abertura das vias. É o corpo pedir uma reação racional e cerebral a um fenômeno físico. Todas as células – lembre-se, não é metáfora – pedem, naquele instante, uma ação urgente. Porém, sem ar a gente perde a noção do tempo. Como em todas aquelas vezes em que tu perdeu e se atrasou por ter ficado mais que o programado no banho.

É bom saber que você conseguia me livrar de toda a crosta do meu passado. Mesmo que agora você faça parte dele."

Com adaptações e tudo mais.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Esse conjunto da obra...

Teu tio carioca da gema que descoloriu os pelos do peito diria: caraca, bicho! 

A chuva que fez quando resolvi sair mais cedo pra evitar o trânsito me lembrou esse caraca, bicho! Não adiantou nada levantar meia hora antes, deixar minha camiseta toda enfarelada de pão de queijo e queimar a língua no leite requentado. Tentar se precaver contra a natureza é o pior erro que a gente pode cometer. Assim como o medo é pré-córtex, bicho e homem, irmãos no destino de esperar, paciente e afoitos, que a eletricidade vá pra outro lado. Completamente subjugados, humilhados e inúteis.

Se o trovão não é deus, nada é.

Mas cê quer outra verdade dessa manhã? Acabaram de me perguntar se essa plenitude romântica-literária que eu prezo é tão linear quanto a própria linha do meu pensamento. E não é. Se eu prefiro escrever sobre a gente, não quer dizer que eu só saiba escrever sobre a gente. O que me difere dos outros nomes da literatura nacional é que eu não sou cobrado pra fazer isso. E gosto. Não tenho pauta marcada, não preciso de horas de champanhe em eventos semestrais pra achar uma rebarba editorial que me faça publicar algo que nem sei se comprariam. E que medo de ser comprado mas não ser lido. Há até quem diga que eu deveria publicar um livro, e agradeço, mas não vejo isso como obrigação. Meus parágrafos não são revisados. Assim como nunca visei ou revisei a possibilidade de ser pra você todas regras gramaticais da minha entrega textual.

Do que eu gosto, até às paredes confesso: erros grandes e pequenos, piadas internas, fados portugueses, mentirinhas verdadeiras, pornografia (e quem não gosta?), Roma renascentista e gargalhar quando a areia entra no seu boga. Foi mal. 

Minha obra literária é você, até quando tu não quiser mais ser.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A fala da alma

Alguém sempre vivia me dizendo que se o começo não fosse bom, muito dificilmente o resto viria a melhorar. Aliás, nunca havia comentado, mas você é a maior praticante dessa teoria comprovada. Na primeira estrofe de alguma música, na capa do livro, na porta dos restaurantes, em tudo o que eu escrevo, no brilho do sol de manhã. Essa primeira impressão tão presente nos teus gostos me apetece a te dar várias outras chances, pois até quando a própria luz do sol te agrada, apenas a segunda xícara do seu café desce no ponto.

Eu te dou todas as chances. Mesmo que minimalistas, são várias as chances.

De te fazer melhor. Mais mulher sem deixar de ser menina. Mais menina sem esquecer de ser mulher. E te falo de perto, de peito aberto, não numa tentativa de vangloriar todas as minhas atitudes que te colocam num degrau acima do meu, mas sim pra te provar que você merece.

Merece todos os mimos não-compráveis, as surpresas não-imagináveis, os sustos internos que você mesma esquecera que fosse capaz de sentir de novo. Merece o esquentar do chuveiro antes do banho. Merece meu celular sem bateria pra poder carregar o seu. Merece um espaço no carrinho do supermercado reservado pra todas as suas frescuras. Merece minha fonética bem trabalhada na hora de te dizer o que parece certo mas não é. Merece mil vezes o sexo oral que precede toda a malícia do teu bom dia.

Dada a minha escolha pra vida, busco em você todos os motivos que, cada vez mais, também me fazem te merecer.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

O simplório, a química e a covardia

Das coisas que a Samantha faz e tem vergonha de mostrar:

"Queria te dizer de mansinho que nunca acreditei nestas tuas epifanias nada amorosas. Que toda essa tua mania de racionalizar coisas não racionalizáveis era muito surrealista, bom demais pra ser verdade. A verdade é que eu também queria acreditar que você pode simplesmente destrinchar o amor à química, mas um sentimento desses não pode ser tão simplório.

O que eu estou querendo dizer, é que você não pode simplesmente resumir o amor a algumas doses de oxitocina, adrenalina, feniletilamina, dopamina, serotonina e endorfinas. Seria ótimo se o amor fosse assim tão fácil, mas não é. Uma comparação não muito óbvia seria quando você disseca um animal qualquer (não que seja uma prática do senso comum, mas você logo vai entender). Um sapo, por exemplo. Você vai obter informações científicas, fazer alguma descoberta importante, se tiver sorte. Mas você não vai mais ter um sapo. E é isso que eu tento dizer sobre o amor. Você pode fazê-lo virar apenas alguma influência hormonal, e explicar cientificamente o que você esta(va) sentindo, mas é aí que eu te digo: não é mais amor!

Poderia dizer-te uma porção de coisas para te (com)provar o meu ponto de vista, mas basto-me com esse texto que você nunca vai ler. Não quero enfatizar mais ainda essa impossibilidade que nos divide, e não quero também gritar para o mundo essa sua covardia irrevogável. Contenho-me escrevendo sobre esses meus devaneios, sobre meu descuido quando tento não escrever sobre o meu amor. Escrevendo o quanto você poderia me amar, mas não ama. E que eu não deveria te amar, mas amo. Como se alguém além de mim se importasse, como se alguém além de mim acreditasse nesses absurdos, mas se eu me importo e acredito, é suficiente, não é mesmo? Já me falaram tanto sobre o impacto dessa nossa colisão, mas eu prefiro os meus destroços a esse amor que tu nunca ousaste em sentir."

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Quase sem rascunho

Não há departamento mais burocrático que nosso próprio bem-estar. Não há estrada de duas mãos mais engarrafada que alma. Não há calhas mais entupidas de folhas molhadas que nosso coração. Não há despertador mais irritante que nosso senso crítico. Não há cobertor mais curto e que não cobre mais nossas pernas que nosso rancor.

Não há mais nem o que comparar.

Você vai ser exatamente aquela pessoa que eu quero encontrar daqui 15 anos e botar na mesa todos os feitos e realizações, não numa tentativa de provar como eu consegui viver sem ti, mas só pra te convencer - assim como já me convenci - de que tudo poderia ter sido melhor... se ainda existisse nós dois.

As coisas boas e consistentes são raras hoje em dia, meu bem. Mas não há o que se queixar. O dom da adaptação é uma dádiva. Saber lembrar de ti da forma mais saudável possível é divino.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

De mim, sobre mim, mas com você no meio

Se eu fizesse uma lista e ditasse todas as pessoas para quem prometo coisas e não cumpro, por incrível que pareça, eu mesmo estaria no topo. Na maioria das vezes promessas matutinas. Como essa em que prometi hoje de manhã ficar quieto sobre o assunto que praticamente não resolvemos. E eu sei que deveria ficar quieto, sem questionar coisas que perfuram qualquer aspecto questionável. É isso e pronto, não precisa futricar lá no fundo dos pensamentos e procurar algum conforto, alguma nuvem em forma de travesseiro que vá me fazer ficar calminho-calminho. Mas eu juro, não consigo. Enquanto um lado meu promete que irá esperar (e só esperar), outro lado e vem dizendo que não mereço tamanha agonia. Se sempre botei todas as partes boas que tinha pra você para fora, porque agora fingiria uma certa calmaria?

Aí, sei lá, eu vim escrever sobre isso. Mesmo que pareça tão mas tão mas tão mas tão mas tão mais covarde. Mas é que eu ando me sentindo cansado, desgastado, chorando quando não quero e te querendo até quando choro. Choro misturado com vontade acaba desgastando demais a gente. Lasanha de chocolate não dá certo por isso. Choro e vontade também. O sal de cada merda lágrima não consegue manter uma relação saudável com o docinho da vontade. Lasanha é bom, chocolate mais ainda; os dois juntos não dá. Eu tô cansado, minhas costas doem no trabalho. E ainda bem que eu trabalho, tenho algo pra encher minha cabeça durante boa parte do dia. Mas tá frio, o outono anda com cara de inverno e mesmo num país com clima tropical, cada vento que bate forte faz doer meus ossos como se eu estivesse indo assistir uma partida de hóquei no norte do Canadá. Dói demais. O frio não vem sozinho. Tem uma coisa nele que abastece uma sensação mais gelada que nem o próprio vento tem noção do efeito.

Eu gosto de associar sentimentalismo com questões climáticas. Me deixa, sua implicante do caralho.

É sério. Ainda bem que eu trabalho. Mesmo que eu precise da internet para trabalhar e em dois segundos posso me distrair olhando qualquer foto sua, qualquer foto que te marcam, qualquer música que nunca associei contigo e agora fazem tanto sentido. Qualquer coisa que antes eram só coisas e que agora são coisas-você.

Mas já sei, falei tudo e não falei nada. Você vai achar de novo que eu sou meio sofrido demais para quem anda sempre despreocupado com tudo. Aliás, você não vai ser a primeira a achar. Minha mãe também acha. Quando passo dois dias de um final de semana em casa ela já quer saber o que aconteceu, com quem eu briguei, onde meus amigos foram e o motivo de eu não ter ido junto. Não é nada, mãe, mas quem eu queria mesmo ver não vai estar lá, então prefiro ficar.

E justo você, que sempre foi estímulo para fantasias programadas, viagens em cima da hora, saques em bancos em cidades que eu nem sabia que tinha meu banco e roupas amassadas dentro da minha mochila sem o zíper da frente; justo você, que sempre me fazia sentir na beira de um abismo com o céu no lugar do chão, agora é a principal personagem do texto mais real e baseado na minha própria realidade que já escrevi.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Gratidão em vida

- E como eram os verões em que ela ainda estava aqui?

- Eram normais, pois agora é que são diferentes. Tão mórbidos quanto invernos. Gela os ossos, congelada a alma. Só de lembrar que ela esquentava meu corpo e minha mente... e agora? Ventania sobre janelas fechadas. E apesar de tudo ainda me traz paz, sabia? De um jeito bastante indireto que você só entenderia se tivesse vivido tais dias como eu vivi. Gosto quando você quer saber sobre ela. Assim como gosto quando os traços dela são tão evidentes no seu jeito de andar, fazendo-me apaixonar de uma forma tão fraternal que quero te cuidar pra sempre - assim como ela cuidaria. Cada gesto numa investida de orgulho em ver que a tão cobiçada menininha cresceu. Se sentiria mais iluminada ainda ao ver seu caderno de desenhos: cheio de flores, animais e todas aquelas naturebas que ela gostava - e que às vezes até me irritava. Houve um tempo em que discutíamos sobre um jardim onde não havia mais espaço. Sempre soube que a casa ficaria ainda mais florida e ela sempre quis provar pra mim que cada pétala serviria para florir uma vida. Talvez a minha, talvez a dela, talvez a sua, ainda que planejada. E quando o Dr. Cunha, naquela tarde de terça-feira confirmou que você viria, a primeira coisa que ela pensou foi em seu nome. Qual flor ela escolheria para gritar (meio que recitando, com aquela voz de veludo) enquanto você corria descalça com os pés cheios de lama e argila pela casa. Não escolheu Rosa à toa, mesmo sendo a mais comum entre as flores que servem para nomear mulheres lindas, com a força da beleza representada em espinhos que machucam, mas abrem os olhos caso outra flor queira te libertar o sangue. Você é a rosa que ela plantou mas não pôde ver crescer. E entre todos o privilégios improváveis sobre a morte, o que se carrega é a maior prova de vida. A ausência dela me apunhala todas as noites pelas costas... enquanto isso, me abraça pela vontade de querer te ver crescendo, pois a cada dia que continuo em pé é uma forma de confirmar que eu vivo e sempre vou viver por ela.

O pai cobriu a menina e voltou para a cozinha. O amargo do café era só mais um sintoma de saudade.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Em tempo, o tempo

Quem tem em pensamento o controle do tempo não sabe o real significado da vida. Quem tem tempo pra nada por estar o tempo todo ocupado: menos ainda. Cronológico, climático, curto ou longo prazo. O tempo, querendo ou não, é a única coisa que nos controla sem fazer realmente nada.

Você desanima na chuva, mas também reclama do sol forte aos olhos desprotegidos.

O tempo é o que define coisas já definidas. O sorriso contagiante aflora as cores mais bonitas na primavera. A saudade adormecida renasce ainda mais viva no inverno. Dá vontade de abraçar quem menos sentiríamos apreço... em outros tempos.

Ele não liga se você anda muito sozinho. Talvez mesmo acompanhado, ainda assim solitário. O tempo também não quer saber se você está atrasado para um reunião importante. Afinal, você não é de açúcar. O tempo pode te curar se banhado de fé. Também te adoece se a vida lhe for muito cômoda. Sem ação e reação. Dizem que nem sempre o tempo resolve, sacia ou ofusca. O tempo não é seu amigo, muito menos seu pior inimigo. Esteja ele pouco se importando ao que nos parece acessível - com muita espera, o que haja tempo.

Plena é a diferença entre querer controlar as horas e apenas se preocupar. Em certa idade todos dizem que a vida passa rápido. Antes do tempo: discordo. Quem caminha devagar somos nós. Esperando o tempo passar, lentamente, como se nossa visão fosse nada além de lenta. Onde a plateia da vida: os vivos, sensatos, morais e, aceitamos, escravos dos nossos próprios minutos.

Confortante, ainda há tempo. Muito tempo. A perder, a ganhar, somar, dividir e expandir. Se o tempo é agora, passado e futuro, sejamos sempre, muito mais que antes, confortáveis a cada segundo. No abraço e no orgulho. Ao sol, à lua, ao que mais bons tempos podem oferecer.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Meu tio diria: murro em ponta de faca


Queria que vocês entendessem que quanto mais vocês ficam nessa de "eu não me importo com a sua opinião" a única coisa que fica clara é que se importam sim. Não acho errado se importar. Aliás, muito pelo contrário. O que me deixa mais triste (e talvez te deixa também) é essa falsa tentativa de tentar provar pro mundo que nada pode te prejudicar, mesmo que seja uma maldade barata vinda de alguém que vale menos ainda.

Sou a favor da auto-estima. Sou a favor de manter a cabeça erguida. Sou a favor de ver gente que eu gosto superando as incomodações. A única diferença - como já disse alguma vez pra alguém nessa vida - é que penso que só é plenamente feliz quem se permite abraçar algum tipo de tristeza... pra depois mandá-la pra puta que pariu.

Se o(a) ex ter seguido a vida em frente te deixa sem esperanças, se o sucesso profissional do colega te deixa com uma pontinha de inveja momentânea só por causa do salário, se recentemente a quantidades de erros for maior que a de acertos, só existe uma saída: assumir aquilo que um dia eram apenas planos de bondades. Talvez a culpa não seja sua, nem minha, nem do carteiro que te entrega nenhuma cartinha bonita de alguém distante. Talvez a culpa seja só de conjunto de coisas boas que, no fim, simplesmente deram errado.

Não é preciso se dar por vencido, mas fingir uma vitória quando a própria vida lhe tirou o êxito nem sempre vai te fazer uma pessoa melhor. É pedir pra apanhar demais. Dar a cara a tapa à toa. E vocês sabem disso.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Mesmo que pareça

Tudo o que era pra ser e não é. Tudo o que sempre foi e nunca mais será. Tudo o que antes me enchia e agora transborda de uma forma incontrolável. Tudo o que me lembra você e num efeito contrário ao que tenho vontade: me esqueço. Esqueço de lembrar. Em dias como esse, onde as nuvens teimam em tampar o sol - como quando você teimava que sua camisola preferida estava desbotando, mas que pra mim ainda iluminava todas as satisfações infinitas em seu corpo.

Mesmo que pareça um parágrafo triste, não é.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Quando a chave encaixa sem você ver

Eu nunca parei pra dizer o que você é. Na maioria das vezes por falta de oportunidade, por excesso de outras nossas-coisas. Eu tomo muito seu tempo fazendo a gente ser a gente. Você toma muito meu tempo me deixando sempre com o olho esquerdo lacrimejando. Quase implorando pra você vir secar bem pertinho. Às vezes de alegria, às vezes de saudade. E quando o vento bate e seca todo o sal da nossa alma parece que a gente tem o dom de voar mesmo sem sair do lugar, pois cada espaço que nos é limitado se torna uma eternidade se o eco da sua risada esquisita pra caralho se propaga por aí. As paredes viram paisagem, o teto se torna um céu sem fim, o chão é um oceano. Profundo, azul marinho e nosso.

Intransigente é a vida. Ainda mais pra mim - adorador dos adjetivos mais inoperantes quando a tentativa principal é te fazer entender minha visão quando te assisto do sofá chegar da merda do seu trabalho. Linda e descabelada. Nesse mundo onde todo trabalho acaba se tornando uma merda. Mas me queixar das imposições corriqueiras também me deixa evidenciar tudo aquilo que faço porque gosto, quero, te quero. Já que você trouxe a parte boa em dividir sorvete napolitano com sua priminha que só gosta de creme e morango. Com cobertura de caramelo, por favor. Que as sobremesas sobre sua mesa da sala de estar são só metáforas sobre como a vida se torna mais doce se sentidas e cobertas de boas intenções. Sorvete e caramelo.

(Me desculpe os palavrões. Lendo assim, depois de te escrever, é que percebo que expressões de intensidade cabem e combinam com a gente.)