segunda-feira, 23 de abril de 2012

Mil novecentos e noventa

Mais do que a vontade de não ter levantado foi a de não te acordar pra não precisar fazer café. Vou sair cedo, sem barulho. Não quis ser inconveniente, muito menos quero que pense que nunca mais vou ligar. Não é a nossa primeira, não quero que seja a última. Nem sei o que tu deve pensar quando me pego contando tudo o que, muito provavelmente, você não está com vontade de ouvir. Não quero parecer interessante, nem te encher com as prosas cansadas de uma pessoa cansada que crio pra te falar, como se isso me renovasse toda noite. E de improvisos em improvisos a gente se constrói com o que tem na mão. Como daquela vez em que te disse que se uma mulher rebola muito quando o funk toca significa que ela se perde nos passos da cama. E você concordou, mesmo não querendo admitir que minha teoria embriagada estava certa. Mas te provei. Bem literalmente.

E depois de tudo isso ainda estamos aqui, matando pra sobreviver, pois todos os desgostos que você me faz sentir na pele se transformam num texto forçado como esse. E que aqui ficam, até certo ponto, para quem quiser ler e perceber que nenhum dos nossos pormenores tristes são tristes o suficiente para ofuscar as alegrias. E que foi por isso que acho que vou te chamar pra morar comigo. Não quero mais sempre ter que cuidar pra não esquecer a escova de dentes antes de sair da minha casa pra sua. Num caminho quase tão maluco quanto deve ser ir pra outro planeta em uma contagem de tempo totalmente diferente do que a Terra está acostumada a seguir. Por falar nisso, hoje, em 1990, o Telescópio Hubble foi lançado no espaço. Tudo a ver, né? Não.

Te espero pro almoço.