domingo, 19 de setembro de 2010

Vila A Via Paraná

Tem dias que eu acordo com uma breve vontade de perguntar para as pessoas sobre suas manias, as quais ainda não saquei, que somariam poucas. Já me falaram pra parar de ficar reparando em qualquer movimento, em tudo que há vida, mas tristes são aqueles que não conseguem entender como até o jeito de bater as cinzas do cigarro pode decifrar alguém. Queria levar qualquer pessoa pra passar o dia comigo e anotar todos esses detalhes que só quem era cego e recuperou a visão conseguiria enxergar.

A cobradora do ônibus que eu volto da faculdade é minha fonte mais segura. Ela, todo dia e no mesmo horário (e no mesmo canal HÁ chaves!) faz as mesmas coisas. Desde prender e desprender o cabelo pra ver se o cara da Receita Federal repara em charme barato, até acabar com a garrafinha de água um ponto antes do meu. As vezes até tento fazer com que ela pare, só de sacanagem, já que não me incomoda em nada essa mini-rotina, mas a coitada não entende nem de cor de esmalte - minha primeira tentativa de assunto - aquela unha parecia intacta desde o último encontro: 2 anos atrás. E ainda não percebeu como o motorista come com os olhos, como compraria um salão de beleza inteiro só pra tê-la uma noite esticada na cama com esse uniforme azul formal, mas que naquele corpo que nunca vi em pé se tornara um pouco mais atrevido. Ela até coloca os óculos pra me dar o troco da passagem, cara! Romance no busão é merda com cheiro de sorvete de creme.

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