domingo, 30 de setembro de 2012

Quando você re-prova e nem sabe


Pensei que minhas finitas necessidades já tinha acabado quando te deixei em casa. Mas você saiu do carro com um sentimento que se sujou quando eu mais tentei limpar. Essa sua mania de deixar tudo meio piegas e clichê sempre me deixou meio encucado, justamente por você gostar de usar as palavras "piegas" e "clichê" quando quer explicar sensações que, pra mim, sempre foram tão normais.

Tesão não se explica. Saudade não se explica. Vontade de beijar alguém, muito menos. Você pode explicar matemática, semântica das cores e botânica, mas as coisas que ferem por dentro e na mente, pode esquecer. Quanto mais explicações, menos você mesma vai entender.

A diferença entre você e eu é que eu tentei te explicar que coisas inexplicáveis só precisam ser sentidas. Ser-sen-ti-das. Mas é claro que você preferiu estudar matemática, semântica das cores e botânica. Ao menos sei que a culpa não vai ser minha quando você reprovar, de novo, quando botarem seu coração à prova.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Só pra me contradizer

Eu tinha prometido pra mim mesmo que só escreveria quando estivesse pleno de coisas boas e pudesse transparecer de alguma forma. Do mesmo jeito que alguns cantam e dançam, eu só tentava escrever - sem rascunhos, pra ficar o mais verdadeiro possível - e imaginava o tanto de gente que se identificaria. Mas hoje, só pra me contradizer, me obriguei a fazer o contrário.

Sempre concordei com a teoria da minha tia que pessoas muito felizes são metade infelizes e não sabem disso. Não há pecado em enganar o mundo com uma felicidade eterna, o problema é se auto enganar e não melhorar nada quando a tristeza bate. Mas olha só, galera, quem tá triste e admitindo. Olha só quem tá de bem com o mundo e de mal por dentro. Mas minha tristeza não afeta quem tá perto, muito menos quem tá longe. A minha tristeza corrói quem deve ser corroído: você mesmo, Marcus.

Mas admitir algum tipo de tristeza me dá o direito de só ficar deitado se lamentando? Por que todo mundo pode reclamar e eu não? Agora posso, né? Minha tristeza também dispensa conselhos. Dispensa abraços, beijos, carinhos e tentativas forçadas de levantar meu ego. Minha tristeza é nada mais que triste e acaba morrendo. Nem chega a virar felicidade. Morre e pronto. Não acho certo misturar tons de cinza com colorido, como se uma coisa tivesse a ver com a outra. Essa tristeza talvez seja uma amiga cansada de mim. Daquelas que querem dar uma volta ao mundo e sempre acabam no mesmo lugar. Mas eu não quero ser seu amigo, tristeza. E de tanto que não quero ser seu amigo, também não quero ser seu inimigo - já que todo inimigo tem algo em comum com a gente. Pode reparar. Aí você odeia mais ainda o inimigo por martelar na cabeça a ideia de que ele não pode parecer nada contigo. Apesar de parecer.

Sendo assim, dona tristeza, pode me sugar enquanto aguenta. Quando eu levantar você vai ver que meu sangue limpo vai te sustentar só por algumas horas. Depois disso ele vira barro, terra bem vermelha. Sangue meu não sai do meu corpo por pouco coisa. E você é tão pouca que, quando a felicidade limpinha e renovada chegar, você vai entender sem eu precisar falar nada.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Aí eu li que palavras não ditas são eternas

Deixa eu te contar que hoje fui de novo naquela única-livraria-cheirosa da minha cidade e esqueci de lembrar de você. Sabe aquela lá que você comprou uma revista só por causa de um poster do Led Zeppelin? Então, essa aí. Aquela que você sempre saía já pedindo pra tomar milk shake e sempre pedia de morango e sempre me oferecia mesmo sabendo que eu odiava aquela merda que não fosse de ovomaltine.

Como sempre foi uma mania nossa, tirei a sorte e peguei só um livro. Só um-zinho, como se ser seletivo com livros fosse um exemplo sobre como ser seletivo com pessoas. E, por incrível que pareça, dessa vez escolhi mais pelo nome do que pela capa. Até porquê se eu pudesse escolher o nome de alguém pra me apaixonar, certamente seria Antonela.

Acredita que nunca conheci uma Antonela? Só Manuela, Manoela, Gabriela, Estela. Pelo menos terminam com ela.

Falando no livro, também lembrei da nossa mania de achar algum parágrafo bom e imaginar que todas as outras páginas fossem tão boas como aquelas poucas frases. Aí eu li que palavras não ditas são eternas. Aí eu lembrei que você sempre reclamava que eu falava demais, explicava demais, queria saber demais. Aí eu lembrei que eu te achava meio babaca e morta-pra-vida por sempre viver encolhida em lugares que não eram na minha cama. Aí eu lembrei que até quando eu te chamava de babaca e morta-pra-vida você reclamava que eu falava demais. Aí eu também lembrei que mesmo falando demais, eu também fazia demais. Consegue entender? São dois pesos que não eram equivalentes pra uma alma que se acostumava com tudo meio leviano. Mas se eu nunca quis isso pra quem só almejava coisas boas, imagina pra mim. Imagina só, sua babaca morta-pra-vida, se eu ia querer pra minha vida uma pessoa que só funciona na base do café.

Depois eu cansei de tentar limpar a sua barra, pois já que você nunca se ajudou, eu que não faria. E se eu voltei nesse assunto foi só pra mostrar pra mim mesmo que consegui entrar naquela livraria e esqueci de lembrar de você. O problema é que quando saí e me toquei disso, acabei lembrando mais uma vez.