segunda-feira, 1 de julho de 2013

O simplório, a química e a covardia

Das coisas que a Samantha faz e tem vergonha de mostrar:

"Queria te dizer de mansinho que nunca acreditei nestas tuas epifanias nada amorosas. Que toda essa tua mania de racionalizar coisas não racionalizáveis era muito surrealista, bom demais pra ser verdade. A verdade é que eu também queria acreditar que você pode simplesmente destrinchar o amor à química, mas um sentimento desses não pode ser tão simplório.

O que eu estou querendo dizer, é que você não pode simplesmente resumir o amor a algumas doses de oxitocina, adrenalina, feniletilamina, dopamina, serotonina e endorfinas. Seria ótimo se o amor fosse assim tão fácil, mas não é. Uma comparação não muito óbvia seria quando você disseca um animal qualquer (não que seja uma prática do senso comum, mas você logo vai entender). Um sapo, por exemplo. Você vai obter informações científicas, fazer alguma descoberta importante, se tiver sorte. Mas você não vai mais ter um sapo. E é isso que eu tento dizer sobre o amor. Você pode fazê-lo virar apenas alguma influência hormonal, e explicar cientificamente o que você esta(va) sentindo, mas é aí que eu te digo: não é mais amor!

Poderia dizer-te uma porção de coisas para te (com)provar o meu ponto de vista, mas basto-me com esse texto que você nunca vai ler. Não quero enfatizar mais ainda essa impossibilidade que nos divide, e não quero também gritar para o mundo essa sua covardia irrevogável. Contenho-me escrevendo sobre esses meus devaneios, sobre meu descuido quando tento não escrever sobre o meu amor. Escrevendo o quanto você poderia me amar, mas não ama. E que eu não deveria te amar, mas amo. Como se alguém além de mim se importasse, como se alguém além de mim acreditasse nesses absurdos, mas se eu me importo e acredito, é suficiente, não é mesmo? Já me falaram tanto sobre o impacto dessa nossa colisão, mas eu prefiro os meus destroços a esse amor que tu nunca ousaste em sentir."