segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Je suis vraiment desolé mais je ne peux pas partir avec toi

Chegando no aeroporto eu pensei em fazer a volta, entrar na contra-mão, provocar algum acidente, qualquer coisa que fizesse com que ela não voltasse pra casa. Se relacionar com intercambista é ter uma certeza maior que a morte: um dia ela vai embora. Mérito nosso não termos pensado tanto nisso durante esses 12 meses, já que aproveitar você aqui era a única coisa que eu faria, e fiz. E me passou um filme de 5 segundos, desde a primeira tequila - que você disse que era muito fraca - até aquele natal, em que o maior presente foi te ver ali, toda Penélope Cruz, ensinando como é que se comemora esse negócio de verdade. Às vezes me sinto com coragem em pensar que quem deixa ir tem pra sempre, mas enquanto teu avião decola, minha saudade já passou as nuvens.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Gostar, gosto sim

Eu, um 'latino-americano sem gosto e nem sabor' pelo menos tento achar mais fácil dizer que gosto daqui do que só ficar reclamando dos desabores do destino. Tento. Até porque foi uma sorte pra mim ter nascido na minha cidade, sendo que de um lado se encontra a Argentina e do outro o Paraguai. Deus me livre! E olha, eu gosto daqui. Gosto do ritmo que as coisas andam por aqui. Gosto do ritmo que as coisas que eu gosto andam por aqui. Aí pra contrariar vem aquela dona de casa, mãe de 4 filhos, todos de pais diferentes (menos os gêmeos que estão pra chegar e ela ainda não sabe), querendo dizer que estrangeiro, quando é pra falar do Brasil, só lembra de Kaká, Pelé e das mulatas da Portela. Estranho é que nisso a danada já esqueceu que deixa o Joãozinho, a Aninha, o Pablo e o Juca na vizinha pra poder trabalhar o corpinho no pagode da esquina depois da feijoada de sábado. Vai ver não é tanto pecado assim. Vai ver ela só finge que não vai desistir nunca.

O problema é que a gente mora num país onde o dono da maior rede de igrejas evangélicas é também dono de uma das principais emissoras de televisão. Enquanto isso, em suas novelas, temas sobrenaturais como vampiros e super-poderes são claramente vistos a cada episódio, contrariando todo e qualquer ensinamento das palavras do deus usado para a arrecadação do dinheiro dos fiéis 'indefesos'. Mas se for pensar bem, o dízimo sagrado acaba indo parar no tanque de gasolina dos jatinhos particulares.

O problema é que a gente mora num país onde a banda pop atual de maior sucesso usa roupas coloridas lançadas por uma outra banda gringa que, provavelmente, os fãs daqui sequer sabem da existência, pois até pra ir no show tem que ser acompanhado dos pais.

O problema é que a gente mora num país onde o programa de maior audiência no domingo é um mesclado geral de todas as mortes e bombas e tentativas de atentados terroristas e chacinas e sequestros que aconteceram durante toda a semana, e achamos aquilo tudo muito Fantástico. Tá, calma, não é tão grave assim, eles tentam uma dose de arte&cultura: anunciam o artista que fez as pinturas expostas no cenário, mas só no final, quando ninguém mais vai ter coragem o suficiente pra sair na rua no dia seguinte.

O problema é que a gente mora num pais onde um palmeirense usa a camisa do Corinthians por não ter mais nada pra vestir. Sem falar na do Santos que ele já jogou pro cachorro aliviar o inverno. A do São Paulo nem conta.

O problema é que nós abafamos uma merda com outra quase pior. A população prefere de brincar com o próprio futuro do que pelo menos descobrir onde fica a Câmara dos Deputados da própria cidade.

E no fim, eu gosto daqui, só não gosto da maioria sugadora que vai sempre tomar a voz baixa de quem leva o Brasil a sério. Mas quando isso mudar eu quero estar por perto, tomando minha típica caipirinha brasileira, lembrando de como o Maranhão é lindo e dizendo pra todo mundo que as minhas cataratas são bem maiores do que as do Niágara.