domingo, 12 de dezembro de 2010

Olhando aqui do alto

Na infância nunca fui dessas crianças de ter medo, nem de barata, rato, fantasma, ladrão, muito menos Bicho Papão. Aliás, eu sempre imaginei que ele fosse um tipo simpático de ET que gostava de roubar papinha das crianças, e por isso elas ficavam tão assustadas. Mas um negócio sempre me encucou: avião. Deve ser de família. Pavor de cobra, alta velocidade, andar a cavalo, café muito quente, tem de tudo. Sem falar da Aicmofobia (medo de agulha) do meu pai, e isso é bem sério. Nessas misturas me deixaram com medo de avião. Não é de altura, é só de avião.

Eis que uma certa vez não teve jeito. A passagem estava comprada e a mala pronta. Era só a segunda viagem acima das nuvens da minha vida, sendo que a primeira foi um passeio por cima das Cataratas.

Na ida ao aeroporto meu amigo já estava se questionando sobre o serviço de bordo. Não sei se eu sou chato o suficiente pra ficar reclamando disso. Me deixando no destino escolhido, tá ótimo! Dessa vez a gente iria pra João Pessoa. Luis queria ver uma namoradinha do ensino médio e eu só fui ver até onde ia minha coragem, mas lógico que curtir um forró de raíz nunca foi uma má ideia. Ainda mais que a namorada dele conhecia uns becos "arretados" por lá. Disseram também sobre um show do Monobloco, ou me enganaram, só pra eu perder mais um pouco do medo. Me atrevi a sentar do lado da janela e abria por uns 5 segundos. Uma mulher na minha frente assistia Reservoir Dogs e Luis não parava de falar na ansiedade de reencontrar Maria. Será que ela está mais gordinha? Mais bronzeada? Será que agora ela transa? Eram duas coisas somadas pra me distrair.

Chegando lá, imaginei que seria uma estratégia turística passar pelas principais praias antes de ir pro aeroporto, mas agradeço, aquilo foi o último sopro pro meu medo sumir por completo. Tenho a impressão de que, incoscientemente, alguém me enviou praquele lugar pra de alguma forma me submeter também ao fino feitiço das glórias desse mundo. A cidade em si, o esplendor do litoral e o crepitar das vaidades em torno de mim, um cara aliviado, sem medo de turbinas gigantes. Detalhes nos perdem, mas também nos salvam.

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