terça-feira, 17 de maio de 2011

O s(c)eu e o inv(f)erno

Hoje você apelou. Me acordar abrindo a cortina foi a maior ofensa desses últimos meses. Nem quando a cadela da vizinha - que é outra cadela - mijou no meu sapato me deixou tão desanimado. Depois disso reclama que o café está velho. Sai pra comprar outro. Volta com uma lista de palavrões novos dizendo que a fila da padaria estava enorme (o que só me surpreenderia se não fosse 7:30 da manhã) e que os maconheirinhos do colégio da frente têm cantadas piores que as do seu tio, aquele de Jundiaí, do umbigo estufado pra fora, igual nariz de palhaço.

Eu poderia tentar te lembrar o quão amada me parecia ontem. Logo ontem. Desde a hora em que se deliciou comendo pizza gelada até quando a sua, a minha, a nossa lingerie preferida rasgou por eu ter jogado no ventilador de teto, só pra gente rir do que aconteceria. E olha só, você riu até se engasgar, dizendo entre uma tosse e outra que compraria uma bem mais bonita.

Parece até um elevador, onde só saio pra tomar um ar, onde você é quem decide os andares. Se quer me sobrecarregar de inspiração me leva pra cobertura, como se lá fosse o lugar mais alto da Terra e em nenhum outro prédio eu sentiria o mesmo vento misturado com o frio que a gente espanta. Mas se quer anular tudo aquilo que me faz sempre deixar um recadinho na sua geladeira é só apertar o -1. As escadas escuras fazem um eco tão vazio que ninguém consegue me escutar. Eu sei, não é a hora da queixa, do desgaste, mas por favor, não use tantas palavras bonitas quando, na verdade, não há nada compatível pra dividir comigo. É o desperdício mais evidente entre as evidências que a gente cria. Eu nem precisava te falar.

Um comentário:

rafaela zelinski disse...

Você escreve pra caralhooooooooooooooooo!! adoro ler isto aqui.