quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

No tempo que Dondon ia comigo pra me ajudar a rezar

Fiquei pensando em como começar esse texto falando de uma parte da infância sem ficar parecido com início do texto de baixo, mas whatever, azar o meu não ter a criatividade necessária pra não ofuscar a beleza de ainda não ser um adolescente que dificilmente vai pra igreja. E penso seriamente que a missão religiosa dos meus reponsáveis era só fazer com que a gente (eu e meu irmão) fossemos pra catequese até a crisma. Mas até lá aconteceram muitas, muitas coisas:

O calor e as voltas na quadra: Lembro até hoje do meu primeiro dia naquela salinha quente. O negócio começava 2 da tarde nos sábados, e foi daí que eu comecei a não suportar o verão. Minha catequista parecia ser bem velha, tinha voz e nome de velha: Lindomar (que pra mim é nome de homem, homem velho). Era do tipo daquelas tias (velhas) carrancudas e viúvas do interior de São Paulo que a família inteira só visita por consideração no natal, mas na real eles só querem que ela morra logo, ou que só se mude. Pra mais longe, é claro. E ela falava coisas que minha mãe já tinha falado anos atrás. Sempre pedia porque eu não levava caderno, se a gente tinha feito uma boa ação durante a semana. Mas naquela época a única coisa boa que eu fazia era colocar açúcar perto dos formigueiros no quintal da minha casa. Sendo assim, muito incômodo pra minha cabeça, resolvi não ir mais praquele lugar. O problema é que não adiantaria falar pra minha mãe sobre minha escolha, mas algum jeito eu tinha que dar. Então era isso, a solução seria sair de casa como se fosse pra ir me catequisar, aaaiai... mas ficava na rua, andando, durante duas horas, indo no mercado, conversando com a costureira que morava na quadra de baixo, tudo que eu considerasse bom o suficiente e que fizesse o tempo passar mais rápido. Só aparecia na igreja pra fazer as provas. Pasmem, gente! Na minha catequese tinha prova!! E foi assim durante dois anos, até que invalidaram minhas falcatruas e quando chegou a primeira comunhão, reprovei por tantas faltas. Até então (e até hoje) isso não tinha acontecido nem no colégio. Mas é, reprovei na catequese. Quem é o fodão agora?

O castigo e a outra turma: Depois dessa brincadeira toda, depois de quase me crucificarem como Jesus, depois de acharem que eu tinha sido possuído, uma tia minha me convenceu a começar a catequese na igreja que frequentava. Ela conhecia alguns padres, eles iam me aceitar, e não era muito longe de casa. Na verdade só resolvi ir mesmo porque iria com uma prima e os amigos dela que gostavam de mim, e eu gostava deles, e de todo mundo, até da catequista Márcia. Acho que foi/sempre vai ser uma das épocas mais felizes da minha vida. Ia pra minha tia 7 da manhã, também aos sábados, a evangelização (como eles dizem) começava 10:00 e acabava meio dia. Depois de reservar um pouco mais meu lugar no céu, ficava lá pelo bairro. Rasguei muitos shorts nos carrinhos de rolimã, coloquei muita bombinha dentro dos formigueiros (olha só como as coisas mudam!) e joguei bola pelo resto dos anos, tanto que hoje não sei mais nem chutar de 'trivela'. A primeira comunhão foi mais pra provar pra mim mesmo que aquilo tudo não era tão ruim, que o ruim só era ter que segurar na mão de gente estranha pra rezar o Pai Nosso.

Os fundos da igreja e a crisma: Uns meses depois me mudei pra onde moro atualmente. Descobri que tinha uma igreja bem pertinho e a catequese era na quarta-feira, 7 da noite. Perfeito! Não ter que acordar cedo e não influenciar nos meus sábados (que agora eram tão sagrados quanto a bíblia) era só o que eu mais queria. E agora era um catequista quem comandava, apesar de eu achar até hoje que ele era gay. Também tinha o Anísio, o catequista-assistente (achava essa palavra muito podre). Ele estudou com meu irmão na oitava série e era filho do farmacêutico da farmácia (ah, jura?!) aqui da esquina. Também tinha o Otávio, porque sempre tem que ter o alto-magrelo-loiro-babaca que quer ser o engraçadão da galera, mas na verdade ele só usava regata e era fedido. Eu conversava mais com o Rafael, outro alto-magrelo-loiro, só que nem era babaca. É meu vizinho até hoje, mora em cima da padaria que eu compro esfiha de hamburguer, que sempre vem com uma merda de picles escondido entre o queijo e o presunto. Não o vejo muito, mas me contaram esses dias que ele deu uma aliança pra namorada com 1 mês de compromisso. Sempre desconfiei daquela expressão desesperada. Não posso esquecer da Andressa, acho que ela era apaixonada por mim. O pai dela é dono de um restaurante que faz uma comida bem parecida com a da minha mãe, ou seja, muito boa. A gente ficou uma vez nos fundos da igreja. Rafael deu cobertura, mas acho que o Otávio foi quem contou pra todo mundo. Também tinha a Rayane, a gordinha que sonhava um dia ser catequista-assistente. Levava terço, salmos marcados e lição de moral pra todo mundo, mas ninguém ligava, pra alguma coisa ela tinha que servir. Acho até que rolava um ciúmes da Andressa comigo, ou de mim com a Andressa. Até porque aquelas roupas largadas e tênis 8 molas nunca me enganaram. Tão novinha, tão não-hétero. A coisa fluía normalmente, era melhor que o Fisk, bem melhor. E só ali eu poderia juntar meus argumentos pra ver graça no novo testamento. Mas a crisma veio mais rápido do que eu pensei. Uma sensação boa que só senti de novo quando terminei o inglês e o terceiro ano, e que só vou sentir quando terminar a faculdade.

Por fim, faz mais de um ano que não vou pra missa. Alguns continuaram em grupos de jovens, na banda da igreja, alguma coisa assim. Tirando a Rayane, ela virou catequista mesmo. Acho que prefiro vê-los de vez em nunca pelo bairro, ou em alguma festa meio bêbados de um jeito que eu nunca imaginaria, se fosse lembrar daquelas caras de coroinhas decorando Salve Rainha. Mas se souberem da Andressa, me avisem, por favor.

3 comentários:

Anônimo disse...

Bons tempos, não? Você deveria ir à igreja para revê-los.

Luciana disse...

Fiquei me sentindo culpada por não ter feito crisma.

Anônimo disse...

Igreja, já.