quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Mesmo depois

Já em casa, ela me surgia onde eu menos esperava, num refrão, uma vibração do celular. Às vezes eu conseguia reconstruí-la inteira, a cada fala, a cada gesto, a cada vento barulhento na sacada. Logo depois eu a perdia completamente. A repentina risada alta que sempre me assustava, a sombra que aquela franja fazia nos olhos, o jeito com que ela dizia "você é besta?" diante de alguma bobagem que eu conto - tudo como se perdia, se desvanecia no ar como se nunca tivesse acontecido. Eu nem ficava tão chocado, já que em mim razão e imaginação sempre se estranhavam um pouco. Tentava me consolar pensando em coisas que juntei diante de várias ocasiões minhas e dos outros: que o amor nunca se engana, que a luz que ele vê no outro é sempre verdadeira, e mesmo quando outro já não é mais tão digno assim, ela fica pairando por ali, como o brilho dessas estrelas há milênios falecidas.

Um comentário:

Adna Martins disse...

Eu acho que esqueci de dizer o quanto eu gosto deste texto. Porque "mesmo depois" me faz ver luz.