terça-feira, 24 de julho de 2012

Carta pra deus e o mundo

Hoje me falaram de novo que você vai voltar do céu. Que tu não tá com pressa, mas vai voltar. Sabe o que eu acho? Volta mesmo, deus. Volta que tá foda. Mas quando voltar, faz assim: separa direitinho quem merece penitência e quem merece só um dos sermões que seus devidos padres já fazem. Aliás, sermão seu deve ser mais tenso, né? Ainda mais em latim.

Mas vamos lá. Quem merece penitência? Vê aí se tu concorda comigo: se há leis jurídicas, religião, perdão - nisso aí eu não acredito nem com as moedas de ouro do seu tempo, foi mal -, uma porrada de coisas que fazem os humanos se redimirem de qualquer mal que possam ter feito, então acho que tu pode fazer assim: o sermão fica pra galera trash-porém-de-mente-aberta, a penitência vai pra quem nunca se permitiu sentir algo insaciável. Sabe? Aquele tipo de pessoa que não teve compromisso com a própria vida. A vida que, supostamente, você deu a ela o direito de viver. A pessoa veio ao mundo e se limitou a todas as obrigações impostas pelo próprio mundo - e não as suas. Sabia que no seu planeta redondinho (quando achavam que era quadrado você deveria rir muito, né?) criado em 7 dias ainda cabe gente assim? Esses dias conheci alguém que admitiu nunca ter sentido vontade de gritar, sendo que gritar é uma das poucas coisas que não se tornaram pecado aos olhos de quem só prega a sua palavra. Que sentido tem a vida sem o prazer de gritar? Sem gritar de prazer? Ein, todo poderoso? Pra mim, tá aí o maior pecado de todos. Não-deixar-sentir. Pelo menos pedra de gelo derrete.

Valeu, por além de tudo, ser um bom físico, deus.

Mas calma. Deixa eu te contar que tem horas que eu quero muito acreditar na sua existência, mas os seus seguidores é que me fazem pensar o contrário. Tem horas que eu associo todas as coisas boas do dia-a-dia ao "poder" que nós encontramos nos sentimentos que você nos deu. Mas tem horas que porra, cagam toda minha fé.

Então, deus (se tu tivesse um nome próprio eu me sentiria na obrigação de usar letra maiúscula, não me julgue o pior ser vivo da terra por isso), se você voltar mesmo, olha bem praqueles que, por ventura, pecaram com o coração. Tenta também não olhar com cara feia. Cara feia significa fome. Mas, se for o caso, a gente divide o pão com o senhor.

Fica bem. Se vier mesmo, a gente te espera.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Tão-tão-tão menores

Só passei pra dizer que nesses últimos três meses eu me permiti criar um novo grupo de convivência e vivência. Aquele grupo de pessoas que vivem e sentem certas coisas sabendo do gosto meio azedo meio amargo da falta que faz depois. Passei também pra dizer que, depois desses três meses, ando me sentindo sobrecarregado de uma ressaca eterna. Como se eu estivesse a maior parte da minha vida numa festa open bar de saudade e agora chegou a fase em que me sinto na obrigação de me lavar por dentro, seja lá como for. Só que a saudade não te dá o direito de ter férias, nem paga sua passagem, nem sua gasolina, muito menos concede sua permissão - o que são empecilhos tão-tão-tão menores perto de tudo. Porém, mesmo assim, ainda assim, o que eu posso fazer é nada. Mas tô tentando. Juro que tô tentando.

O que corrói por dentro é reconhecer que existe um abismo imenso entre tentar e conseguir. Mas a gente consegue. É só o mundo não se desfazer.