sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Dia de visita (que quase não tenho)

Liberdade em prato cheio, doses repetidas. Não casei, não tive filhos, meus familiares não me visitaram. A intensidade com que vivi em mim e para mim sempre se destacou nesse meu andar desajeitado. Eu por mim. Nem Deus, nem deusa, nem signo, nem sangue. Sim, me arrependo de certas coisas, como quando não passei o último café para minha querida mãe. Mas nenhum, nenhum arrependimento será tão marcante quanto o de não ter atirado na cabeça daquele filho da puta. O filho da puta que me fez estar aqui desde 1999. Eu, o homem mais livre do mundo, me vi preso. Por algêmas e alguns cadeados, só. Encorajado de tanta marginalidade cheirando a ferro. Selas lotadas, grandes amigos. Cheguei a ser transferido algumas vezes, em todas para lugares piores. Como se os últimos anos fossem a prova de que o mundo não é um lugar justo. Talvez as pessoas, mas o mundo não, ele não.

As visitas que recebi sempre foram de pessoas inusitadas. Políticos, engenheiros, vestibulandos, padres, escritores, psicólogos, jogadores de futebol, bicheiros, viciados, pintores, estilistas, viajantes, pais e mães. Soltos. Presos em suas próprias ideias. Pessoas que se prenderam enquanto livres e não há justiça que desfaça tal sentença. Eu nunca soube tratar tristeza. Tentei, mas não aprendi. Quando me jogaram no porta-malas daquela viatura fedida, a primeira coisa que fiz foi dar bom dia para os policiais. Hoje os mesmos me chamam de "meu camarada."

Aos visitantes condenados, pouco fiz. Despejava gargalhadas, alguma piada suja, versos, refrões, poemas. Por fim, um abraço. Gostava de acreditar que aquilo era o molho de chaves que procuravam há tempos. A certa somente eles poderiam encontrar. Simples, rápido.

Para os que confundem liberdade com solidão: Nina Simone.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Resposta para Marina:

É verdade. Ser exceção deve dar trabalho. Penso até que esse grupo de mulheres, as exceções, nunca foi criado. Sempre existiu, forte como as que foram às ruas lutar por liberdade de expressão em tempos ruins, sincero como as que deixaram suas 25478 escovadas antes de dormir para amamentar de leite e amor. As que vivem para o trabalho, as que trabalham para viver. Ser mulher deve ser tão difícil quanto escolher o vestido de casamento.

Aí imagino se criassem esse mesmo grupo para os homens. Seria inventado algum tipo de lazer. Algo que envolvesse um monte de excessos. De cerveja (que no fundinho eu sei que tu também gosta), futebol, poker, bandas instrumentais, gravatas e pizza com borda recheada. Ao mesmo tempo e bem evidente sobre nossos desejos, o excesso das exceções. As mulheres desses homens não seriam temperamentais em dias de TPM, nem reclamariam da toalha molhada em cima da cama, nem revisariam nossa caixa de entrada toda segunda-feira e se preocupariam menos com essa história cansada de regime. Seriam elas, floridas por dentro e por fora, de cima a baixo, como se suas orquídeas não murchassem no inverno, pois estariam amadas. Sem pausa. Em dia de Maracanã ou não. Principalmente quando vestissem nossas camisetas, até os joelhos, com uma manga mais dobrada que a outra. Sobre o resto dos homens, eles podem até amar as loucas e casar com as outras. Mas só eles, porque ainda não casei. E quero.